domingo, 30 de abril de 2017

Café fresco e a manhã de domingo


Um dos cheiros que mais gosto é de café fresco. Ele lembra aconchego, infância, casa de vó. Cheiro de café fresco me dá paz, é quase uma meditação olfativa. E uma das coisas mais felizes da minha vida é acordar com cheiro de café fresco feito pelo meu marido.
O café está na nossa cultura há séculos. Ele acorda o corpo e a alma. Aquece as ideias. Traz uma sensação de acolhimento que bebida nenhuma outra traz. Nem o chá. Esta última também traz sensação de acolhimento, mas só quando estou resfriada. Rs.
O momento mais feliz da minha semana é o domingo de manhã quando está frio, porém com sol, e coloco um pedaço de canela em pau minha xícara de café recém coado. Os aromas, os sabores, isso é vida!
Amo café espresso também. Mas esse é muito "executivo", muito moderno, é para depois do almoço ou para encerrar um delicioso jantar. De manhã não. De manhã tem que ter carinho, afeto no seu café. O café tem que ter emoção, trazer sua memória olfativa e gustativa à tona nas mais lindas lembranças. Café é amor.
Lembrei de uma música de Chico Buarque chamada "Com açúcar, com afeto". Para mim, toda manhã de domingo é "Com café, com afeto".
Estou aqui tomando meu café com um pedaço de canela em pau numa manhã de domingo ensolarada e fresca.
E o seu domingo? Tem sabor de que?

Daniele Van-Lume Simões      30 de abril de 2017


quarta-feira, 26 de abril de 2017

Tempo, mano velho


Ontem assisti a um dos meus programas prediletos, por incrível que pareça na TV aberta, o MasterChef Brasil, que me deu uma profunda lição sobre a importância do tempo.
Não porque fui dormir quase 2h da manhã e hoje estou caindo de sono, não. Mas sim porque este danado é implacável com todos. O eliminado da noite não foi embora por causa da qualidade da sua comida, nem porque trocou o sal por açúcar ou mandou algum jurado para aquele lugar e sim porque não respeitou o senhor dos senhores: o tempo.
Este sim reina absoluto entre nós, mesmo já tendo sido provado que ele é relativo. Sabe aqueles 15 minutos de atraso clássico do brasileiro, que você, que eu, costumamos usufruir sem dor na consciência? Pois é, é péssimo. Em locais onde a educação é a regra, não a exceção, e que todos se respeitam minimamente isso não existe. Veja a Suíça, a Dinamarca, a Inglaterra. Ninguém faz você perder seu tempo esperando por alguém, pois ele é respeitado, valorizado. São 15 minutos que você poderia ter gasto dormindo, fazendo meditação, tomando café da manhã com a família, lendo uma crônica como esta. Não esperando, não refém de uma pessoa que se acha no direito de usurpar seu precioso tempo. Ele não volta. Cada minuto perdido é minuto gasto.
O participante do MasterChef foi eliminado porque não usou seu tempo adequadamente, porque não conseguiu executar dois pratos e entregou somente um, mesmo os dois sendo iguais. Aí você pensa: “Injusto isso, a comida dele estava melhor”. Não senhor, não é injusto. Todos os outros participantes entregaram os dois pratos, respeitaram o tempo, os convidados, as regras. Não ter respeito pelo tempo alheio é algo muito grave e que só ontem percebi como fui egoísta quando fiz os outros perderem seu tempo por minha causa.
Tão importante quanto a quantidade de tempo gasto com alguma coisa ou alguém, é a qualidade dele. O que você faz do seu tempo disponível? Como você trabalha? Como você usa as horas de folga, quando não há compromissos? Você faz o que realmente quer?
Que a vida é curta, que o tempo, além de relativo, não volta, todo mundo sabe. Só precisamos aprender a respeitá-lo. Quem sabe assim, conseguiremos, de fato, também respeitar as pessoas antes que seja tarde. Game over.


Daniele Van-Lume Simões  26 de abril de 2017

domingo, 23 de abril de 2017

A leveza do voo


Ultimamente, tenho andado pesada, polêmica. Também, pudera, é política, é desemprego, é notícia ruim todo dia e todo instante na internet e na TV, é ataque terrorista, é cansaço misturado com desesperança, é gente passando a perna na gente, é uma certa melancolia e tristeza. É tanta coisa que mina com o sentimento pleno e de completude da felicidade, que acho que nos condicionamos a achar normal não ter alegrias. Ou até tê-las, mas não nos permitirmos senti-las, vivencia-las.
Vivo falando que a vida é simples - e é mesmo. Estava pensando sobre isso enquanto enchia uma garrafa de água na cozinha para aplacar o calor do Planalto Central, e uma minúscula borboleta pousou na minha janela. Pequena, em toda sua delicadeza e leveza, sem fazer barulho, pousou perto de mim. Sorri. Pensei que aquela borboletinha tão delicada em sua essência já foi uma lagarta, provavelmente não muito atraente. Às vezes precisamos passar pelo difícil para sermos recompensados. Às vezes é preciso rastejar primeiro para poder voar. Assim é a vida. Com a borboleta, comigo, com você.
Pensei que preciso ter mais paciência com as coisas e as pessoas, preciso ter resiliência para todas as fases de lagarta que vou passar na vida para conseguir voar todos os voos que mereço. Preciso ter fé e sobretudo equilíbrio. O mundo anda de cabeça para baixo, mas eu não posso estar.
Eu quero voar com toda elegância que aquela borboletinha voou e para isso, é preciso superar a fase de lagarta. Dar tempo ao tempo. E quando vi, a garrafa já estava cheia. Saúde!

Daniele Van-Lume Simões      23 de abril de 2017


Quem bagunçou, que arrume!

Dia 28 de abril estão marcando uma paralisação geral no país. Conversando com uma amiga, comentei que não iria aderir. Não é que não seja patriota, sou sim, muito. Tanto que não bati panela quando o desemprego estava na margem dos 4% ao final de 2015. Não bati porque eu sabia que podia piorar a situação do meu país e dos brasileiros se o fizesse.
Não vou aderir porque fui ensinada pela minha mãe que se eu bagunçar, eu tenho que arrumar. E a culpa da bagunça não é minha.
Não tínhamos a melhor política e a melhor economia do mundo, por conta da corrupção desenfreada que assola esse país, mas também não tínhamos o caos de uma política neoliberal que está sendo implantada às custas da miséria de muitos. Essa política está acabando com direitos, com a esperança, com o Brasil. E o pior é que as pessoas pediram por ela. Em vez de pato inflável na frente na câmara, deviam colocar agora um jumento.
Essa política neoliberal quer atrair investidores estrangeiros, baixando os juros e a inflação, dando a ideia de um local seguro para investir. Ledo engano. Não sou economista, mas vivencio todo dia o sufoco que o brasileiro tem passado para (sobre)viver - e que infelizmente ele mesmo procurou. Bater panelas gera consequências. Engraçado é que ninguém pensou nisso. Rico só vai para protesto se for para voltar a ter benefícios em cima dos mais pobres, ou ninguém aqui sabia disso? Você acha que tomar champanhe na Paulista era comemorando o que? A vitória do Timão?
            Desigualdade social é que gera oferta de mão de obra barata, é que faz alguém aceitar um salário de fome e ainda fazer o melhor para não perder o emprego. É que faz a dondoca emergente ter 4 empregadas domésticas e tratá-las como escravas, mesmo após 150 anos da abolição. Rico no Brasil só protesta para melhorar sua vida e seus negócios e não da população em geral. Acho que agora a classe média aprendeu a lição.
A imprensa noticiar como sendo uma coisa boa que a inflação está baixa é chamar a pessoa de idiota. Inflação é o índice mais fajuto que existe para medir a economia. A inflação baixa não quer dizer nada. Ela pode estar baixa porque as pessoas não têm dinheiro para comprar os produtos e os produtores/vendedores são obrigados a baixarem o preço para não encalhar o estoque e para não ter mais prejuízos. Lei da oferta e procura, quanto menor a procura, maior a oferta e menor o preço/menor a inflação - simples assim.
Já o desemprego atinge hoje 13% da população economicamente ativa, quase 13 milhões de brasileiros. No final de 2015 eram 4% e acharam ruim e protestaram. É meu caro, já dizia a primeira Lei de Murphy: “Não há nada tão ruim, que não possa piorar”.
Hoje, não vou participar de protestos, como não participei em 2014, 2015, 2016. Vou continuar meu trabalho, com a minha vida, honestamente e aguardando as próximas eleições - muito embora saiba que vivemos num parlamentarismo disfarçado e o voto não significa lá grandes coisas.
Mas não abro mão do meu direito de ficar quieta. Quem provocou essa bagunça, que arrume a casa agora – já dizia minha mãe.

Daniele Van-Lume Simões    23 de abril de 2017


quinta-feira, 20 de abril de 2017

O sorriso


Essa foto é de uma força e uma delicadeza imensas. Retrata bem o machismo, a brutalidade do homem que se acha no direito de gritar, de pôr o dedo na cara, de ameaçar uma pessoa só porque essa pessoa é mulher.
Quantos homens ficam corajosos quando o outro lado é do gênero feminino. Sabe aquele ditado: “Vai brigar com alguém do seu tamanho?”. Pois é, esse tipo de homem nunca vai. É covarde.
Vimos exemplos de machismo e brutalidade todos os dias. Seja na TV, desde o noticiário do almoço, com o feminicídio, até num programa que teoricamente era para divertir, o Big Brother. Vimos também mulheres aceitando isso, seja porque estão fragilizadas emocionalmente, com a autoestima no lixo, seja por medo.
As mulheres sofrem abusos desde sempre. Desde que acusaram Eva de ter dado a maçã a Adão. Essa história é velha. Ora, ele por acaso mastigou com uma arma apontada? Não. Mas a culpa é dela. É nossa. Sempre. Sofremos acusações e abusos de todos os tipos e ainda somos culpadas por isso. Mas as coisas estão mudando, devagar, mas estão. Muitas mulheres estão sofrendo para que a mudança ocorra, mas não estão se calando.
E essa imagem é um tapa de luva na cara da sociedade. O homem bruto, machista, agressor, totalmente descontrolado e ela forte, íntegra, serena, sorrindo. Ela podia até estar com medo, mas maior que o medo dela, foi sua coragem.
Um sorriso desarma qualquer argumento. Mas não estou falando de um sorriso debochado não, estou falando de um sorriso de quem diria: “Você não vai me atingir, eu sou maior que sua violência”.
Essa mulher tão jovem já nos ensinou algo grandioso: a manter o equilíbrio quando querem nos desestabilizar. Seja pela condição de gênero ou por qualquer outro motivo.
Essa mulher nos mostrou que somos maiores e melhores que essa violência contra a mulher e que juntas, somos fortes.
O nome dessa jovem é Saffyiah Khan. E mesmo tão jovem, nos deu uma valiosa lição. Muito obrigada.

Daniele Van-Lume Simões             20 de abril de 2017

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Densidade de pobreza e Victor Hugo


Conversando com uma grande amiga minha aqui de Brasília e uma das maiores epidemiologistas que conheço, Helen Paredes, chegamos à conclusão que as pessoas têm pudor de dar nome aos bois. Até mesmo na epidemiologia.
Ela me falou de um indicador espacial que ela desenvolveu durante o doutorado dela, que georreferenciava as regiões com maiores bolsões de pobreza e o chamou de “Densidade de pobreza”. Nome mais apropriado impossível.
Claro que a banca da tese caiu matando. “Que nome horroroso!”, “Que nome feio, muda isso” foram algumas das frases que ela ouviu. Pois bem, eu acho que o nome tem que ser feio mesmo porque o que ele representa não é nem um pouco bonito.
Pobreza só existe por conta de desigualdade social, de falta de investimentos públicos em educação e saúde, por conta da corrupção descarada que assola esse país, por conta da desonestidade de muitos, desde roubar pequenas coisas como desviar milhões. Não importa o tamanho do roubo. Caráter não é quantificável. Ou tem ou não tem. Muitos não fazem isso por falta de oportunidade e só.
Pobreza existe por conta do capitalismo desenfreado aliado a pessoas perversas e a falta de caráter. E por falta de uma boa surra. O nome que ela deu não poderia ter sido mais adequado. É como chamar pobre de humilde. Me dá náuseas isso. Hipocrisia! Conheço pessoas ricas e humildes. Conheço pessoas pobres e arrogantes. Conheço de tudo. Humildade está relacionada com caráter e valores pessoais e de vida, pobreza é advinda da desigualdade social, exploração e corrupção. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Mas dizer que alguém é humilde soa bonito, quase romântico. Só que não existe romantismo nenhum dentro de uma panela e uma barriga vazias.
O nome tem que ser dado exatamente para o que ele representa. E se ele for um tanto feio, melhor – quer dizer que aquilo está errado e precisa ser mudado. Ainda bem que nomes feios existem.
Mas, como boa irônica que sou, não resisti a uma piada e disse que ela deveria chamar o indicador de “Densidade Victor Hugo”, em homenagem ao autor de “Les Misérables”. Com um nome fino desses, acho que os hipócritas ficariam mais confortáveis.


Daniele Van-Lume Simões    19 de abril de 2017

Honestidade


Hoje me aconteceu uma coisa muito desagradável. Descobri que não temos o direito de esquecer nada, nenhum objeto de valor, em lugar nenhum, nem que esse lugar seja seu ambiente de trabalho.
Ontem à noite eu esqueci uma necessaire no banheiro feminino do prédio do Ministério que trabalho com uns itens de maquiagem importada dentro. Estava cansada, com fome, tinha que fazer jantar, colocar roupa para lavar, organizar a casa. Tinha trabalhado um bocado, porque no Ministério é bem dinâmico. Entrei, usei o banheiro e esqueci a nécessaire lá dentro. Saí do trabalho às 18:40 h.
Hoje pela manhã, ao procurar na minha bolsa a nécessaire para me maquiar para ir trabalhar, me dei falta dela. Pensei com meus botões: “Alguém deve ter visto e guardado. Quando chegar ao trabalho, vou perguntar quem guardou”. Quanta inocência. Esqueci, além da nécessaire, que moramos no Brasil.
Perguntei a todos assim que cheguei e nada. Três colegas de trabalho a viram no banheiro, mas não guardaram nem entregaram na recepção. Tive mais uma lição aí: que muitas vezes não ligamos para o que não é nosso. Talvez também tenham deixado lá para que a dona, no caso eu, lembrasse e voltasse para buscar. Mas o certo mesmo é pegar e entregar na recepção, registrando no livro de ocorrências. Mesmo assim, a culpa não é nossa – nem minha, nem de quem viu e a deixou quietinha. Se todas as pessoas que a viram tivessem deixado lá, obviamente ela estaria no mesmo lugar de ontem. Bom, o fato é que a nécessaire não apareceu. Sumiu. Ou melhor, alguém sem escrúpulos a viu e furtou. Achado e não devolvido é roubado sim. Esse ditado de que “achado não é roubado” é ridículo. Fui furtada dentro do meu próprio ambiente de trabalho.
Não é só pelo prejuízo de 400 pratas, afinal eram maquiagens caras e que comprei com o suor do meu dinheiro em suaves prestações. Escutei que eu saí tarde demais do trabalho e por isso não tinha como cobrar uma resolução do caso. Gente, caráter não bate ponto e larga às 18h não. Caráter ou se tem ou não tem e se tem, ele é permanente. Escutei também que “Ah, era só maquiagem”. Além de ser uma maquiagem cara, pensei que e se fosse um celular, um tablet, um computador com trabalhos importantes? Podia ser qualquer coisa, desde um berilo até um notebook ultra high tech. Se não é seu, guarde e entregue na recepção. Ou, pelo menos, não mexa.
Aprendi que é mais fácil culpabilizar a vítima. Disseram que a culpa foi minha de ter esquecido. Todo mundo tem o direito de esquecer alguma coisa, mas ninguém tem o direito de tomar esta coisa indevidamente para si. Isso é crime. Não estou falando de esquecer no meio da rua, estou falando de esquecer dentro de uma sala, no 6º andar, de um prédio ministerial.
São situações como essas que me envergonham de ser brasileira. São situações como essa que me embrulham o estômago, que me deixam triste e desanimada de viver nesta bosta de país. São situações como essa que me fazem ser descrente nas pessoas. É inadmissível, num ambiente que entram pessoas educadas, trabalhadores, acontecer esse tipo de coisa. Isso gera um clima de desconforto horrível e também de insegurança, pois você não tem a menor ideia de quem foi. Ou até tem, mas não tem como provar. Falta de caráter não tem classe social.
Hoje tive uma lição que não gostaria de ter tido. Que no Brasil, a honestidade não é a regra.

Daniele Van-Lume Simões    19 de abril de 2017


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Assunto sério: Não ao assédio!

A coragem da figurinista Susllem Tonani em denunciar uma situação de assédio sexual cometida por um famoso ator é um exemplo que todas nós mulheres devemos seguir. Não importa se é o chefe, o colega ou o subordinado, não importa sua roupa, sua profissão ou sua beleza, ninguém tem o direito de falar grosseria, de ofender, de constranger ou de oprimir você - muito menos no ambiente onde deveria existir minimamente respeito e equidade que é o seu trabalho.
Muito chocante ler comentários na internet de próprias mulheres justificando o injustificável. De mulheres afirmando que ela deu espaço ou que se fosse um ator da moda ela teria gostado. Meu bem, pode ser o Brad Pitt numa Ferrari com um anel de diamantes! Se você não permitir, ele não tem o direito de forçar uma situação nem de falar absolutamente nada que possa soar desagradável!
Não se intimide e denuncie qualquer abuso que sofrer. O número: 180. Registre B.O.. Denuncie no RH. Faça valer o seu direito de trabalhar com dignidade e de existir como mulher.
Mexeu com uma, mexeu com todas.
Que venham as fogueiras - não teremos medo da inquisição.

Daniele Van-Lume Simões    10 de abril de 2017


segunda-feira, 3 de abril de 2017

Os sonhos e a vida

Quase uma hora da manhã, estou sem sono e começo a filosofar sobre a vida. Eu deveria estar dormindo já, sonhando até... Mas o que é sonho?
Quando somos crianças, sonho é imaginar o futuro, como seria ser adulto, como seria trabalhar, como seria usar salto alto e batom (no meu caso). Quebrei vários saltos da minha mãe e estraguei toneladas de maquiagem dela que tiveram como preço algumas palmadas e horas no quarto de castigo sem TV. Mas não tinha problema, eu era criança e minha imaginação andava solta. Eu imaginava que seria rica, moraria numa bela casa com piscina, teria um carro rosa conversível (sem trabalhar na Mary Kay obviamente...), teria cachorros, uma família linda e filhos, dois: um menino e uma menina. Ainda seria astronauta ou cientista. Ah, e seria famosa. Quantos sonhos para uma menina só!
De lá pra cá, os sonhos mudaram, outros tornaram-se distantes e alguns realizei. A família linda eu construí, ainda que sem filhos. Não virei astronauta, virei cientista. Tudo o que é relacionado à ciência biomédica me fascina até hoje. Estou longe de ser rica, meu carro não é rosa (ainda bem!) e moro num apartamento sem piscina. Vi que realizei apenas o que realmente importa.
Hoje os meus sonhos são outros. Sonho em ter muita saúde para trabalhar no que gosto, sonho em ter sabedoria para manter minha família unida, sonho em ter um gato em vez de um cachorro, porque cachorros são cansativos demais e hoje, mais do que ser astronauta, eu só quero ser feliz na maior parte do tempo da minha vida. Com minha família, com meu trabalho e com meus amigos.
Os sonhos estão bem mais modestos, mas não menos importantes. Eles só se adequaram às experiências de sua vida, dando um peso às coisas que importam de verdade. Se você perguntar hoje qual o meu maior sonho? Ver os sonhos das pessoas que eu amo realizados. Ver o sorriso do meu marido, ver meu pai tranquilo, ver minha mãe animada, ver meus amigos bem-sucedidos e claro, me ver parte integrante dessa felicidade e sucesso.
Os sonhos, depois de certa idade, passam a não ser só seus. Começam a envolver outras pessoas, outras realizações que não dependem de você apenas. Você tem seus desejos e sonhos, mas eles perdem o sentido se não envolverem as pessoas que são importantes na sua vida. É quase um sonho solidário.
Não acredito em realização pessoal, se as pessoas que te cercam não estão felizes. Realizações envolvem relacionamentos interpessoais, seja no trabalho seja com os familiares e amigos. Por isso a felicidade é uma via de mão dupla. Não existe felicidade na solidão. Existe equilíbrio, paz interior, tranquilidade, conexão espiritual, mas felicidade é uma energia que circula pelo menos entre duas pessoas, é uma energia compartilhada, assim como os sonhos começam a ser com o tempo compartilhados. Compartilhar sonhos é compartilhar felicidade e realizações.
Se aos 34 anos eu penso assim, pode ser que eu chegue aos 60 sem sonho nenhum genuinamente só meu. Mas se isso acontecer, terei a certeza que compreendi o verdadeiro sentido do altruísmo, o verdadeiro motivo de sonharmos e consequentemente, o verdadeiro valor da vida. 

Daniele Van-Lume Simões   04 de abril de 2017


domingo, 2 de abril de 2017

Família


Tem uma música famosa que tem exatamente esse nome: Família. "Família, família, cachorro, gato, galinha... Família, família, acorda junto todo dia, nunca perde essa mania...".
Família é bem isso mesmo, bagunça, correria, confusão, mas ao mesmo tempo um porto seguro para o qual voltamos ao final do dia. Todos os dias. E que bom!
Família pode ser de sangue, de coração, de princípios. Família é aquela que nos suporta, literalmente. Suporta nossas manias e defeitos e nos dá suporte quando necessário para seguirmos em frente.
Tem muito amigo que é muito mais família que muito parente. Tem parente que é muito mais família que certos irmãos. Tem irmão que é pai, que é mãe, que é filho e que é o brother.
Tem pai ausente, tem pai que é mãe, tem o super pai. Tem mãe chata, mãe amiga, mãe que parece filha e mãe super protetora.
Tem marido que é o melhor amigo, tem marido que parece filho ou às vezes pai, quando precisamos de um conselho.
Tem ainda uma infinidade de parentes: primos, tios, avós, tudo junto e misturado nas festas de fim de ano e nos grupos de whatsapp.
Tem família que você não se reconhece nela e também aquela que você não se imagina sem.
Tem a família do coração, dos filhos de criação. 
Tem família de princípios, que são seus amigos. Tem família que veio agregada a sua, como a esposa do seu tio, os primos dos seus primos, a madrasta, o padrasto, o marido da tia.
Família boa é aquela que tem fofoca de vez em quando, que tem chester no Natal, que tem viagem no feriado. Família boa briga por política e até por religião, mas faz as pazes com um comentário engraçado e está tudo bem. Família boa é aquela que se une quando alguém adoece, que reza junto, que ri junto, que chora junto e que se sente junto - mesmo que distante. E como tenho aprendido com a distância...
Família boa tem alguém que admiramos (te amo, pai!), alguém que nos identificamos e até alguém que não gostamos, mas e daí? Não se pode agradar todo mundo. Já me livrei dessa obrigação faz tempo. E por conta disso, me sinto mais parte da família.
Família boa convive bem três dias, mais que isso, rola estresse, rola briga por causa da louça suja, rola não querer lavar o banheiro na sua vez, mas quando está longe, se fala nos outros 362 dias.
Família boa tem silêncio, tem sumiço (eu!). tem meme, tem respeito aos mais velhos mesmo que eles estejam errados. É, vocês também erram viu? Não é só a gente não...
Família tem tudo isso, todos os dias, durante todos os anos e é justamente por isso que ela é tão essencial nas nossas vidas. É a nossa base. Uma pessoa sem família é uma pessoa incompleta.
Sou grata a Deus pela família que tenho, cheia de manias, de defeitos (incluindo quem vos escreve), mas cheia de amor e solidariedade. Sou grata pela família que fui criada, com valores e princípios, e pela que estou construindo.
Sou grata pela minha família do coração (um beijo, meu marido!), pela minha família de sangue e pela família que me escolheu, meus amigos.
Se eu pudesse definir o que é família, aqui distante, em Brasília, eu diria que família é aquilo que pode tornar o domingo um dia realmente feliz.
Por isso, cuide dos seus familiares e amigos, pois eles são sim o seu maior tesouro. E não espere ficar longe ou perdê-los para perceber a importância que eles têm na sua vida. A família certamente compreenderia se isso acontecesse, mas ela não é eterna.
Bom domingo a todos!

Daniele Van-Lume Simões    02 de abril de 2017