domingo, 24 de setembro de 2017

A paz


Tem uma música famosa que fala "A paz invadiu o meu coração...". É linda, mas utópica. A paz deveria invadir as atitudes. Essas sim, merecem um pouco mais de paz. O mundo anda cheio de ódio e rancor, mesmo com cada vez mais pessoas adeptas a ioga. Contraditório, não? Não. Você pode ser um mestre iogue que se você não praticar sua paz interior com atitudes, nada adiantará ficar de cabeça pra baixo por duas horas.
Quando ficamos mais velhos, mudamos os valores. Passamos a ser mais racionais e isso não é de todo ruim. Quando somos jovens queremos muito dinheiro para torrar no que quisermos, mas quando mais velhos queremos apenas um pouco de paz, "um lugar de mato verde para plantar e para colher" e relações sinceras, mesmo que contemos numa única mão a quantidade de pessoas que fazem parte da nossa vida significativamente. E este último, meu caro, não há dinheiro no mundo que compre. A paz está nas relações saudáveis e na simplicidade que você encara a vida.
Quando jovens, achamos que "o tempo não pára". Quanta inocência. Pára sim. Mas só se quisermos parar com ele. Pare para ver o pôr do sol, para para sentir a chuva molhar seus pés, pare para ouvir o canto de um pássaro. A vida continua acontecendo, segundo por segundo, mas como Einstein provou que o tempo é relativo, ele parece parar junto com a gente e se transformar numa pequena eternidade quando paramos para senti-lo. A paz pode estar em alguns segundos. Acho que Einstein gostava de pássaros...
A verdadeira paz não é aquilo que você dá na igreja ao desconhecido do lado. É aquilo que você sente e que externaliza, seja com uma voz mansa, seja com um gesto de gentileza, seja com um auxílio a quem precisa. E se for anônimo, te digo, maior será sua paz.
A paz é algo interior sim, mas que não deve ficar por aí. Precisa ser externalizada, praticada.
A paz é aquilo que falta em casa, quando tratamos mal as pessoas que mais deveríamos tratar bem: nossos pais, nossos filhos, nossos cônjuges... Não adianta ser um poço de educação da porta para fora, se a rispidez impera com quem você dorme todas as noites.
A paz tem que ser constantemente praticada... E como é difícil.
A paz é algo que, se parássemos de idealizar com bandeiras e pombas brancas, e assumíssemos nossa responsabilidade por cultivá-la com atitudes, deixaria de ser utopia para se transformar uma realidade cotidiana. E aí sim conheceríamos o verdadeiro significado de outra palavra: a justiça.
"Hoje eu só quero que o dia termine bem...". E em paz.

             Daniele Van-Lume Simões     24 de setembro de 2017



A inspiração

Faz tempo que não escrevo. Escrever é sazonal. Não acredito em escritores que têm inspiração constante com qualidade. É preciso de tempo para oxigenar as ideias, descobrir novas palavras e emoções, e principalmente, dar um tempo de se mostrar.
Para que um texto venha, é preciso cobrir-se às vezes, observar mais do que expor, calar mais do que falar, sentir mais do que pensar.
Hoje, depois de um tempo afastada, senti necessidade de colocar em meus dedos as minhas ideias. E cá estou eu, em um domingo de manhã ensolarada, escrevendo... Descobrindo-me.
E cada descoberta é um assombro. Como não pensei nisso antes? A graça da vida está em assombrar-se com as possibilidades.
Escrever crônicas não é racional. É emocional. Deixe as racionalidades para teses e artigos acadêmicos.
Aqui, tento colocar em palavras aquele espaço compreendido entre o que penso e o que sinto. Um espaço sem nome, mas de tanto significado. De tantas conexões com os leitores. Eles sabem de que espaço estou falando...
Um brinde às crônicas por preencher estes espaços, quando vazios, e por fazer das reflexões cotidianas algo profundo e assombroso.

Daniele Van-Lume Simões         24 de setembro de 2017