Muita
gente vive com dúvida sobre a carreira que escolheu seguir. Às vezes, nunca
conseguiremos respostas. Dúvidas sempre vão existir e você escolhe se vai dar
margem a elas e viver numa angústia e insatisfação sem fim ou vai fazer o que
naquele momento você julga ser o melhor para você. Tudo tem os dois lados e uma
consequência. E fazer escolhas é assumir riscos.
A
diferença entre uma vida de realizações ou uma medíocre é a satisfação pessoal
que sua escolha profissional traz pra você.
Eu
tenho duas grandes paixões: Ciência e Escrever. Além de vinhos, mas não consegui ainda ter minha vinícola... hahaha. Mas escrever pra mim é um hobby, uma forma de desestressar do dia, do
trânsito, do calor, do tédio ou de mim mesma. É quando coloco tudo pra fora sem
medo nenhum de ser feliz. É quase terapêutico. Se fosse obrigatório, certamente
seria maçante. Então sobra a Ciência.
Fiz
carreira acadêmica, mestrado, doutorado, tudo como manda a cartilha do
pesquisador. Fiz e não me arrependo. Mas como nada é perfeito, não foi um mar
de flores. Muitas vezes, me virei nos 30, nos 40, nos 50 para um experimento
dar certo. Quebrei a cabeça com softwares estatísticos que odeio mexer. Senti-me
isolada do mundo, pois além de viver com pouco dinheiro (quem teve uma bolsa de
mestrado, sabe do que estou falando), passava meus fins de semana dentro de um
laboratório frio, branco, impessoal – de jaleco, sem maquiagem e com vários
cálculos de concentração de antígenos por fazer. Precisava passar por isso e
passei porque queria ser doutora, cientista – era meu sonho. Amadureci e segui
em frente. Fiz Doutorado, passei por mais tantos outros perrengues, mas
consegui. Terminei, PhD, ufa e agora?
Chegou
a hora de decidir no que trabalhar – já que pesquisa remunerada com bolsa não é
considerada trabalho no Brasil (o que é um verdadeiro absurdo) - e para a área
acadêmica no país só há uma saída: concursos públicos. Fiz alguns para
biomédica, para pesquisadora, passei em todos, alguns fui chamada, outros não,
mas eu queria mais, queria um concurso federal, num Ministério, que por acaso
era o da minha formação, o da Saúde.
E
como sempre, fui me dedicar a conquistar meu sonho. Trabalhei como biomédica,
como professora universitária, como case manager – afinal, precisava pagar as
contas - até que... Consegui. Vim sozinha para Brasília, sem conhecer a cidade,
com a grana curta, fiz minha prova voltei para Recife e um ano depois, quando menos esperava, ganhei um presente de Natal: fui
chamada num concurso que eu queria.
Não foi difícil a prova, mas só não foi
assim porque eu estudava havia anos. Mas
o caminho foi longo, junte 4 anos de graduação mais 2 de mestrado mais 4 de
doutorado e mais alguns anos de estudos entre uma coisa e outra... Sempre Saúde
Pública, Vigilância, Métodos de Diagnóstico, Doenças Negligenciadas, imunologia
etc... Caminho longo é a melhor
definição. Não foi difícil passar na prova - porque as pessoas confundem
disciplina com dificuldade -, difícil foi o caminho percorrido até conseguir o
meu objetivo. Também não foi fácil o pós-concurso. Esse sim exigiu, sobretudo, além
de abdicação, muita coragem.
O
pós-concurso exigiu mudanças drásticas. Mudança de carreira (antes eu era
pesquisadora, agora estou começando como tecnologista, com pessoas novas, num
ambiente novo, numa função nova), mudança de hábitos, mudança de cidade, de
clima, de emprego, de rotina, de amigos, de orçamento, de vida, de tudo. Deixei
pra trás família, casa, emprego, amigos e vim com a cara, a coragem, algum
dinheiro e meu esposo, que corajoso como ele só, me apoiou desde o primeiro
momento e a primeira conversa. E veio no mesmo dia que eu. Assim como o meu
pai, que morro de saudade e ainda me apoia até hoje. Mesmo o sonho sendo meu,
eles realizaram o sonho junto comigo e se não fosse por eles e com a ajuda
deles, eu não teria tido a coragem que tive.
Apesar
disso tudo, de todo apoio, não foi fácil a adaptação. Aliás, ainda estou nesse
processo. Tem dias que bate uma nostalgia, uma tristeza até - mas não dúvidas.
Sinto que tomei a decisão certa. Sinto que não posso mais recuar - nem quero.
Sinto que fiz o que deveria ter feito. Não sei o que teria acontecido se
tivesse continuado em Recife, como estaria minha vida lá. Nunca saberei, porque
dúvidas não costumam fazer parte da minha vida quando se trata do que quero -
só na hora da escolha do sapato ou do batom (ai, como sofro!). E quando elas
insistem em rondar minha mente, me colocando para baixo, as afasto com bons
pensamentos, orações, uma boa leitura e claro, uma crônica.
Portanto,
o que quero dizer com tudo isso é que, mesmo que você não esteja no seu melhor
dia, não desista do seu objetivo de vida, por mais arriscado que seja, por mais que exija
força, atitude, disciplina. Lute pelo que acredita. Siga em frente, olhe pra frente.
Faça
suas escolhas sem medo de errar, apenas as faça com o que julgas ser melhor
para você. E se errar na escolha, nada te impede de recomeçar. Ou de iniciar um
novo projeto. Ou de correr atrás dos seus - novos - sonhos. Ou de começar um
blog. É só querer. Mas quando for atrás do seu objetivo de vida, não
se esqueça de levar a coragem consigo, pois só ela te mostrará o melhor caminho
a ser seguido em busca da sua felicidade plena, mesmo que seja o caminho de
volta.
Daniele
Van-Lume Simões 19/10/2016