Poucos lugares me fazem sentir
segura. Um deles, talvez o principal, é o meu banheiro. Lá, depois que passo a
chave, me sinto livre de ter pressa, de ser chamada, de ser incomodada, porque
se tem algo sagrado para as pessoas é quando ela vai ao seu próprio
banheiro.
No seu banheiro, ninguém ousa
bater na porta e perguntar: está tudo bem? - Diferente do que acontece quando
você vai ao banheiro na casa de alguém e demora mais que 5 minutos lá dentro.
Te incomodam. Às vezes, você só quer um pouco de silêncio por perto. Ou retocar
a maquiagem. Ou chorar. Ou, em último caso, fazer suas necessidades mesmo.
No seu banheiro não. Mesmo com
uma visita te esperando na sala, ela fica lá, sentada, vendo tv, esperando a
hora que você vai sair do seu banheiro, sem jamais pensar em te incomodar.
Mesmo que você fique por lá meia hora seguida no mais absoluto silêncio.
O seu banheiro é sagrado, quase
um templo, em que lá, você pode despir-se de qualquer tipo de artifícios - seja
roupa, maquiagem ou sentimentos. Lá pode se demorar quanto quiser, pode ler um
livro, responder e-mails (imagina seu chefe descobrindo que aquele e-mail
importante foi escrito no intervalo entre suas necessidades e sua
higienização?), pode se olhar no fundo dos seus próprios olhos, pode chorar,
cantar, rir sozinho, pode ser você mesmo. Lá você está a salvo.
Quando passo a chave na porta,
parece que abri um portal mágico e que ninguém vai me descobrir. Quando sinto
os cheiros dos meus géis de banho, sinto prazer nas pequenas coisas, como
sentir cheiros. E prazer nas grandes coisas: sentir-me limpa - verdadeiramente
limpa, por dentro e por fora. Um bom banho com água morna e algo cheiroso faz
milagres pra alma.
Quando estou no meu banheiro, me
olho nos olhos através de um espelho, vejo aquela ruga que insiste em fincar,
vejo meu corpo já não tão jovem, vejo um cabelo branco despontando no alto da
cabeça, até posso ver uma lágrima escorrer, mas não me importo se estou
apresentável. Ali, eu sou eu, sem artifícios. Ali eu posso me encarar de
frente. Principalmente depois de um bom demaquilante.
Até acho que a famosa escultura "O Pensador" de Rodin foi simbolizando a sabedoria no banheiro. E talvez seja um sacrilégio expô-la aos olhos de milhares de curiosos num momento tão íntimo. Vai saber.
Mas não se iluda, não é qualquer
banheiro, é no seu e somente seu banheiro que você encontra a paz, o alívio e o
silêncio. O seu banheiro é essencial na sua sobrevivência e creia, meu amigo,
que fazer as necessidades talvez fique num dos últimos lugares nessa luta que
se chama vida.
Daniele Van-Lume Simões 18 de dezembro de 2016
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