Esse
texto é para fazer uma homenagem à razão pela qual escrevo: os leitores. Sem
eles, as palavras não teriam sentido. Seriam apenas aglomerados de letras, sem
capacidade de emocionar ninguém. E sem emoção, não há sentido de ser.
Quanto
idiomas existem no mundo? Talvez centenas ou até mesmo, milhares, pois existem
os dialetos. E quantos se perderiam com o tempo se não houvesse a escrita e quem
os lessem? Talvez todos.
Por
isso, para quem escreve, o leitor é tão importante. É a certeza de que as palavras,
unidas, vão tocar alguém que esteja precisando lê-las. É a certeza que as palavras
vão despertar alguma emoção, nem que seja contrária à sua. É a certeza que as
palavras não serão etéreas. Elas se eternizarão através da materialização num
papel, num livro ou numa tela de computador. Não importa. Elas estarão lá,
registradas, por quanto tempo for necessário e fizer sentido.
A
escrita aproxima de você quem nunca te viu, mas que, de alguma forma, se
identifica com suas ideias e sentimentos. Faz com que nos sintamos próximos de
alguém, como nos sentimos quando encontramos um amigo de longa data ou um
parente querido.
Eu
mesma me sinto muito próxima a Rubem Alves, mesmo após seu falecimento. Quando
o leio, imagino-me numa varanda, com um café fresquinho coado, olhando a
paisagem e proseando sobre a vida e a simplicidade da felicidade.
Quando
estou inquieta, sinto-me a melhor amiga de Martha Medeiros. É como se estivesse
numa sala, tomando um bom vinho com uns queijos e filosofando sobre a vida e as
relações humanas e dando boas risadas.
Quando
estou introspectiva, aproximo-me de Lia Luft. Também estaríamos numa sala, mas sem
falatório, lendo algo profundo e tocante e depois nos olharíamos e daríamos
apenas um sorriso cúmplice de que o que lemos foi algo transformador. Tudo isso
no mais profundo silêncio.
Quando
estou romântica, sou a amiga boêmia de Fernando Pessoa. Com ele, imagino-me
numa mesa de bar, conversando sobre o amor e rabiscando versos para o meu
amado. Um beijo, meu amor!
Quando
estou descrente, janto com Schopenhauer e conversando com ele, vejo a realidade
do homem, nua e crua, visceral e sem máscaras. Imagino-me tomando um conhaque
com café após um jantar e falando da falsidade que é a sociedade. E ficando p
da vida com esta constatação.
Quando
estou filosófica, recebo cartas do meu querido amigo que mora longe, Nietzsche.
Estou sozinha, numa cadeira de balanço, olhando a chuva cair num campo verde e
o céu cinza, com seus textos nas minhas mãos e emocionada com suas reflexões.
Quando
me irrito com a política, visito Chico Buarque num sábado à noite. Tomo um
whisky numa varanda de frente para o mar do Rio de Janeiro e dialogamos sobre a
merda que está o país. Até arriscamos algumas composições.
Quando
quero intensidade, passo na casa de Clarice (Lispector) e a vejo fumando num
canto, com os olhos de quem não dormiu, mas com a vivacidade de uma criança de
5 anos. Ela abre seu caderno e lê para mim o seu mais novo texto com a avidez
de uma adolescente encantada com as palavras recebidas do amado. E eu fico mais
encantada ainda com a profundidade de suas inquietações.
Por
fim, quando estou grata, olho para o lado e dou um abraço afetuoso no meu melhor
amigo, do olhar mais bondoso que já vi, Jesus Cristo. Imagino-me observando
cada ensinamento seu, apenas ouvindo e deixando as suas palavras e sabedoria tão
profundas tomarem conta de mim e me lembrarem que é preciso evoluir
espiritualmente para alcançar a felicidade plena. Assim como me sinto quando
leio a Bíblia.
Por sentir tudo isso quando leio
meus autores preferidos, é que você, caro leitor, é o maior presente que eu
posso receber todos os dias, cada vez que meus textos são acessados e lidos por
vocês. Por isso, vocês merecem não só os meus agradecimentos, mas
principalmente o meu respeito. Por isso escrevo com alma.
Este
é o texto 101 do blog “Café com pimenta é refresco” e sinto-me felizarda cada
vez que consigo expressar em palavras escritas as minhas ideias e honrar cada
acesso, cada compartilhamento, cada um que se identifica com o que escrevo.
Obrigada,
caros leitores!
Daniele
Van-Lume Simões 29 de março de 2017
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