Hoje
li uma expressão que me chamou a atenção: incontinência verbal. Já vi
incontinência urinária e incontinência pigmentar (um problema genético em um
dos cromossomos), mas incontinência verbal não. E achei o maior barato.
A história é de
uma freira que usa uma ferramenta de rede social para escrever o que pensa – e claro,
como todo mundo, ela é mal interpretada. Principalmente por ser direta. Poucas
pessoas estão acostumadas a isso.
Copio, aqui, um
trecho da entrevista: "Reconheço que às vezes tenho incontinência verbal e
que não sou prudente. Mas sempre penso na boa fé das pessoas e não nos
mal-intencionados", diz. "Não tenho medo das pessoas, mas sim dos
fundamentalistas e os que querem ver algo mau onde não há", acrescenta.
No Brasil, ser
direta é ser deselegante, porque a maioria das pessoas gosta mesmo é de floreio e
puxa-saquismo. Ser direta é ser rude ou grossa, porque as pessoas gostam de
palavras difíceis para mostrar eloquência e impor respeito. Ser direta
e pragmática, então, meu Deus, é quase suicídio social. Experimente, e se
sobreviver, me conte.
Aí,
vejo a reportagem e uma pessoa como outra qualquer, uma mulher, forte e doce ao
mesmo tempo, uma mulher que inclui as pessoas e quer ser incluída ao adotar
novas formas de comunicação sendo julgada pelo que pensa ou fala/escreve por
gente que nem se dá ao trabalho de compreender sua fala/escrita.
Quantos
de nós não julgamos alguma vez alguém mal por falar o que sente ou pensa, sendo
que a falsidade é algo muito mais dolorido de enfrentar? Quantas vezes nós
fazemos rodeios para expor um assunto com medo do que os outros vão falar
depois? Quantas vezes calamos, sendo que calamos não por evolução ou
resignação, mas por covardia de enfrentar uma situação ou alguém?
Para
os que me conhecem, tenho fama de ser direta. Para os que não me conhecem
direito, mas que adoram um julgamento, eu pareço rude e arrogante algumas
vezes. Não sou dona da verdade, claro que não, mas não gosto de gente que finge
ser uma coisa que não é ou que não sente. Já me importei muitas vezes com o que
pensavam ou falavam por conta do meu jeito, mas hoje vejo que não me importo
mais.
Com
o passar dos anos, passei a ter alguns filtros para que não fosse confundida
com inconsequente. Afinal, vivemos em sociedade. Mas se tiver que falar algo
para alguém, vou falar, mesmo que erre. Não tenho problema em reconhecer quando
erro. Porém, temos que separar o que de fato é ofensivo de discussões baseadas
em melindres de alter ego. Para estes últimos, definitivamente, não tenho
paciência. Aí sou curta. E grossa.
Por
isso, prefiro mil vezes a incontinência verbal – minha e das pessoas, do que a
falsidade de um “oi, querida” quando na verdade querem te ver pelas costas.
Obrigada,
irmã Lúcia, por lutar, mesmo que inconscientemente, contra a hipocrisia.
Segue
o link da matéria:
Daniele
Van-Lume Simões 08 de março de 2017
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