As pessoas normalmente julgam. Nasceram juízes. Julgam sua roupa, seu sapato, seu carro, sua escolaridade, seus modos. Desde crianças julgamos. A primeira pergunta na escola é: Qual o carro do seu pai? Afinal, querem saber qual o pai mais rico para discriminar o filho do pai mais pobre. Criança não entende de carro, mas desde cedo entende que vai passar por isso a vida inteira.
Sempre
fui julgada. Primeiro por ser filha única. Mimada, chata, egoísta são alguns dos
adjetivos que sempre me colocaram sem me conhecer. Quase ninguém sabe da minha
história nem o quanto lutei para chegar até onde cheguei. Ninguém sabe quantos
fins de semana abri mão para estudar, trabalhar, correr atrás dos meus sonhos.
Nem vão saber. Minhas contas são pagas por mim. Arrogância? Que seja. Eu chamo
de discrição. Ouvi recentemente de um professor da Johns Hopkins: -Achei que
você era chata, mas você é legal. E em espanhol. Eu apenas sorri. Julgamentos
alheios não escolhem nacionalidade. É um mal universal.
Na
adolescência fui julgada por ser gorda, por ser CDF (nerd hoje em dia), por ser
tímida. Tinha vergonha de falar com pessoas que não conhecia e por isso me
julgavam metida. Não era, era apenas timidez. Tinha vergonha até de dizer pros
meus pais o quanto os amo. Perdi 20 anos calada, sem expressar meus sentimentos
para as pessoas mais importantes da minha vida. Ainda bem que hoje eu tenho 34.
Tem 14 anos que eles sabem disso.
Quando
escolhi a faculdade que queria fazer, fui julgada porque não fiz medicina ou
direito pela família, pelos amigos, até pelo coordenador da escola. “Você é
capaz de passar em medicina”. E eu pensava: “Eu sei”. Mas eu queria ser
cientista, conhecer moléculas, os genes, a imunopatologia das doenças. Fui
julgada por querer ser cientista. Engoli os julgamentos e fiz meu curso, meu
mestrado, meu doutorado. Sou nerd mesmo e daí? Isso não é defeito, é apenas um
modo de viver.
Já
fui julgada por ser mulher. Já fui julgada porque sou vaidosa. Acham-me fútil.
Não ligo. Sou vaidosa, adoro meus sapatos, minhas maquiagens e minhas máscaras
de argila. Adoro ficar a cara do Shrek, para depois ter uma pele de seda. Divirto-me
com isso. E com tantos julgamentos, aprendi a ligar o foda-se, enquanto passo
minha máscara.
Hoje
não é diferente. Tenho meu trabalho, meu casamento, minha casa e continuo sendo
julgada. Os julgamentos são pessoais. Vêm de todos os lados. Discussão no campo
das ideias não existe. O ataque é pessoal. Ah, Schopenhauer... há três séculos
você já sabia disso. As pessoas andam donas da verdade e eu, claro, estou
errada. E isso é verbalizado. Respeito com a opinião ou o trabalho
alheio andam em falta. As pessoas estão agressivas, cheias de razão, cheias de
si. Enquanto ofendem, eu acho graça. E acho que se ocupam tanto com julgamentos
alheios exatamente por isso: andam cheias de si. Deve ser insuportável ser um
juiz sem causa.
E
eu? Bom, eu estou muito ocupada. Cuidado da minha vida e do que realmente
importa. E ligando o dane-se para os juízes da minha vida.
Daniele
Van-Lume Simões 02 de junho de 2017
Adorei!!!
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