Muitas
vezes achamos que somos de ferro. Passamos 8h em reuniões, fazemos faxina,
cozinhamos, tudo isso num dia só e quando chega 23h, chega também o aviso: Para
tudo. Pegue leve. O corpo fala.
O
aviso não vem de familiares, de colegas de trabalho, não. Vem do seu corpo.
Recebi um desses semana passada. No auge da empolgação e produção, meu corpo
não falou, gritou em alto e bom som: Pare! Doeu muito! Bem-feito.
A
coluna travou e uma sexta-feira que seria produtiva no trabalho, foi tomando
medicações fortes, que me deixaram grogue e fazendo exames. Repouso absoluto.
Sensação de impotência. Não há o que fazer, a não ser respeitar meu limite.
E
olha que o limite foi curto. Quatro dias em casa, sem poder ficar muito tempo
sentada, sem conseguir fazer as coisas direito, me fez pensar muita coisa. A
sensação de impotência foi se dissipando quando resolvi ouvir um pouco meu
corpo.
Quanto
corremos todos os dias para fazer todas as tarefas possíveis, numa vã tentativa
de resolver as dores do mundo? O que ganhamos com isso? Te digo, uma bela dor
nas costas.
Quanto
nos importamos, ficamos tensos, nos preocupamos com coisas que são de fácil
resolução ou pior, que as pessoas nem valorizam tanto, mas que nossa mania de
perfeição faz com que nunca achemos que foi o suficiente? E quando vimos, as
coisas foram resolvidas sem sua presença. Você estava no hospital.
Quantas
vezes esquecemos da nossa saúde física e mental, de espairecer, de olhar a
natureza, de contemplar um pôr do sol no meio da semana, de estarmos com quem
amamos, por falta de tempo? Ou melhor, de prioridades? Você não casou com um
relatório, nem jurou amor a uma faxina na casa.
Aprender
a priorizar o que você vai se lembrar para o resto da vida é uma das coisas
mais difíceis de pôr em prática. Já vi pessoas nostálgicas lembrando de um pôr
do sol belíssimo que assistiram junto ao seu amor, mas nunca vi ninguém
lembrando com saudosismo de um relatório que entregou ao chefe 20 anos trás.
Mesmo assim, insistimos nos relatórios, nas metas, nas obrigações diárias (e
que por serem chamadas de diárias, nunca terão fim, a menos que a morte venha).
Insistimos no estresse, na correria, na falta de prioridades. Insistimos em não
ouvir nosso corpo, e o mais grave, de não ouvir nosso coração.
Vejam
bem, não estou defendendo que devemos ser irresponsáveis no trabalho nem
relapso com as coisas de casa, estou falando que não devemos ocupar nosso tempo
inteiro apenas de obrigações que você não vai lembrar quando estiver no leito
de morte. Nem que seja 5 minutos do seu dia, abrace quem você ama, ligue para
seus pais ou seus filhos, mande uma mensagem para uma amiga distante, olhe a
lua e suas fases. É disso que você vai lembrar, se tiver a sorte de ter se
permitido vivenciar.
Às
vezes, por mais dolorido que seja, é bom parar. O mundo não para por sua causa
e você, que se julgava indispensável, vê que tudo está funcionando normalmente.
Você é só mais uma peça do quebra cabeça que é a vida, que pode até ficar
incompleto, mas não vai impedir de que as pessoas vejam o todo e identifiquem a
paisagem. É só um buraquinho que falta. Ficou feia esta analogia, mas é isso
mesmo. Você, out, é só um buraquinho vazio num quebra cabeça de 3 mil peças.
Parei
por 5 dias e minha racionalidade está morrendo de medo de ter que parar por
mais, mas vou respeitar meu corpo e as ordens médicas.
Mas
tudo isso me trouxe uma lição, que no fundo já sabia: Aprendi que nem sempre o
que priorizamos é o que faz a diferença.
E
tenho certeza, hoje o pôr do sol será espetacular.
Daniele
Van-Lume Simões 18 de julho de
2017
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