Dia desses, liguei a TV num
canal por assinatura e estava passando um filme antigo do diretor Steven
Spilberg – que adoro (o diretor, não o filme) – chamado Gremlins, de 1984. Eu
não lembrava bem da história deste filme, mas ao terminar de assistir, vi que o
Spilberg é um visionário. E vou dizer por que. Fiz uma analogia meio louca, mas
perfeitamente plausível para o enredo deste filme nos dias atuais: os Gremlins
de ontem são as crianças de hoje.
No filme, para criar os
bichinhos fofinhos e meigos de uma forma saudável e sem riscos, era necessária
uma série de regras, igual é necessário para criar crianças. Quem não as
obedece, e faz a vontade desses bichinhos fofinhos toda vez que fazem carinha
de dó e birra, sofre consequências desastrosas da falta de limite, este que não
foi imposto no momento certo, na hora certa. Como disse, igualzinho a criar
crianças.
Pra completar, há um personagem
no filme, um senhor chinês, que adverte sobre os riscos e responsabilidades de
se ter um gremlin em casa e que nem todos estão preparados para este desafio.
Igual a um filho. Só que no filme, o senhorzinho chinês, quando vê a confusão
que o bichano causou na cidade, o pega de volta para que não cause mais estragos,
deixando a família que o comprou livre do problema. Mas com os filhos não, eles
ficam conosco. Nenhum chinês sábio leva-os embora para nos salvar, caso
cometamos algum erro em sua educação, como por exemplo, a falta de limites.
Toda a confusão do filme ocorre
exatamente por isso: falta de limite. Falta de obediência às regras e
compreensão da necessidade delas. Assim como na vida. No filme, eram três
regras principais: não molhar o Gremlin nunca, não o expor à luz forte e não o
alimentar após a meia noite, mesmo que ele chorasse. O fato é que, claro, essas
regras não foram seguidas pelos donos do bicho e esse, que antes era uma graça
de fofo, se transforma num verdadeiro demônio. Aliás, em vários, porque quando
é molhado, o bichinho se multiplica em ovos (?). Uma lógica que nem Darwin
junto com Capra e toda a complexidade de Morin poderiam explicar, mas ficção é
ficção. E eu que não sou louca de discutir com Spilberg sobre evolucionismo.
Ele foi diretor do ET...
A falta de seriedade em relação
às regras estabelecidas é que causou um pandemônio na cidade. Isso me fez
perceber que estamos vivendo em meio a vários Gremlins, só que eles não têm
pelos, não tem orelhas pontiagudas, não querem comer após meia noite (aliás,
não querem comer hora nenhuma), não se multiplicam, e sim estudam e atendem
pelos nomes de João, Vinicius, Aninha, Maria...
São as crianças de hoje. Serão
os adultos do nosso futuro. Vejo pais cada vez mais com preguiça de impor
regras aos seus filhos e levar a sério a importância de dar limites,
propiciando uma liberdade que, quando sem maturidade, pode se tornar uma
verdadeira ameaça mais na frente. Vejo crianças chantagistas, choronas, que
fingem que não escutam quando o pai ou a mãe chamam, que fazem birra e até
ameaçam chamar a polícia! Vejam só quanta ousadia! Se eu chamasse a polícia
cada vez que levasse uma bronca ou uma palmada, minha mãe estaria condenada à
prisão perpétua. Crianças maldosas, alimentadas de liberdade após a meia noite
e durante todo o dia. Alimentadas de vídeo games, de falta de respeito e de
regras.
Hoje, eu tenho limites, tenho
regras, sei meu lugar. Minha mãe me deu todos (e mais alguns) limites que uma
criança poderia ter, talvez por isso eu me choque com tanta falta de respeito e
de educação doméstica quando vejo as crianças de hoje. Mas não tenho filhos.
Espero que quando eu os tiver, eu me lembre bem destes exemplos – dos Gremlins
de ontem e das crianças de hoje e da semelhança entre eles – quando eu resolver
impor um limite ou uma regra a um filho. E que eu não fraqueje, para que, em
vez de criar um cidadão, não criar um monstro.
07 de janeiro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário