Conversando
com uma grande amiga minha aqui de Brasília e uma das maiores epidemiologistas
que conheço, Helen Paredes, chegamos à conclusão que as pessoas
têm pudor de dar nome aos bois. Até mesmo na epidemiologia.
Ela
me falou de um indicador espacial que ela desenvolveu durante o doutorado dela,
que georreferenciava as regiões com maiores bolsões de pobreza e o chamou de “Densidade
de pobreza”. Nome mais apropriado impossível.
Claro
que a banca da tese caiu matando. “Que nome horroroso!”, “Que nome feio, muda
isso” foram algumas das frases que ela ouviu. Pois bem, eu acho que o nome tem
que ser feio mesmo porque o que ele representa não é nem um pouco bonito.
Pobreza
só existe por conta de desigualdade social, de falta de investimentos públicos
em educação e saúde, por conta da corrupção descarada que assola esse país, por
conta da desonestidade de muitos, desde roubar pequenas coisas como desviar
milhões. Não importa o tamanho do roubo. Caráter não é quantificável. Ou tem ou
não tem. Muitos não fazem isso por falta de oportunidade e só.
Pobreza
existe por conta do capitalismo desenfreado aliado a pessoas perversas e a
falta de caráter. E por falta de uma boa surra. O nome que ela deu não poderia
ter sido mais adequado. É como chamar pobre de humilde. Me dá náuseas isso. Hipocrisia!
Conheço pessoas ricas e humildes. Conheço pessoas pobres e arrogantes. Conheço
de tudo. Humildade está relacionada com caráter e valores pessoais e de vida,
pobreza é advinda da desigualdade social, exploração e corrupção. Uma coisa não
tem absolutamente nada a ver com a outra. Mas dizer que alguém é humilde soa
bonito, quase romântico. Só que não existe romantismo nenhum dentro de uma
panela e uma barriga vazias.
O
nome tem que ser dado exatamente para o que ele representa. E se ele for um
tanto feio, melhor – quer dizer que aquilo está errado e precisa ser mudado.
Ainda bem que nomes feios existem.
Mas,
como boa irônica que sou, não resisti a uma piada e disse que ela deveria
chamar o indicador de “Densidade Victor Hugo”, em homenagem ao autor de “Les
Misérables”. Com um nome fino desses, acho que os hipócritas ficariam
mais confortáveis.
Daniele
Van-Lume Simões 19 de abril de 2017
Kkkkkkkkkk. Muito bom!!
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