Hoje me aconteceu
uma coisa muito desagradável. Descobri que não temos o direito de esquecer
nada, nenhum objeto de valor, em lugar nenhum, nem que esse lugar seja seu
ambiente de trabalho.
Ontem à noite eu
esqueci uma necessaire no banheiro feminino do prédio do Ministério que
trabalho com uns itens de maquiagem importada dentro. Estava cansada, com fome,
tinha que fazer jantar, colocar roupa para lavar, organizar a casa. Tinha
trabalhado um bocado, porque no Ministério é bem dinâmico. Entrei, usei o
banheiro e esqueci a nécessaire lá dentro. Saí do trabalho às 18:40 h.
Hoje pela manhã,
ao procurar na minha bolsa a nécessaire para me maquiar para ir trabalhar, me
dei falta dela. Pensei com meus botões: “Alguém deve ter visto e guardado.
Quando chegar ao trabalho, vou perguntar quem guardou”. Quanta inocência. Esqueci,
além da nécessaire, que moramos no Brasil.
Perguntei a todos
assim que cheguei e nada. Três colegas de trabalho a viram no banheiro, mas não
guardaram nem entregaram na recepção. Tive mais uma lição aí: que muitas vezes não
ligamos para o que não é nosso. Talvez também tenham deixado lá para que a
dona, no caso eu, lembrasse e voltasse para buscar. Mas o certo mesmo é pegar e
entregar na recepção, registrando no livro de ocorrências. Mesmo assim, a culpa
não é nossa – nem minha, nem de quem viu e a deixou quietinha. Se todas as
pessoas que a viram tivessem deixado lá, obviamente ela estaria no mesmo lugar
de ontem. Bom, o fato é que a nécessaire não apareceu. Sumiu. Ou melhor, alguém
sem escrúpulos a viu e furtou. Achado e não devolvido é roubado sim. Esse
ditado de que “achado não é roubado” é ridículo. Fui furtada dentro do meu
próprio ambiente de trabalho.
Não é só pelo
prejuízo de 400 pratas, afinal eram maquiagens caras e que comprei com o suor
do meu dinheiro em suaves prestações. Escutei que eu saí tarde demais do
trabalho e por isso não tinha como cobrar uma resolução do caso. Gente, caráter
não bate ponto e larga às 18h não. Caráter ou se tem ou não tem e se tem, ele é
permanente. Escutei também que “Ah, era só maquiagem”. Além de ser uma
maquiagem cara, pensei que e se fosse um celular, um tablet, um computador com
trabalhos importantes? Podia ser qualquer coisa, desde um berilo até um
notebook ultra high tech. Se não é seu, guarde e entregue na recepção. Ou, pelo
menos, não mexa.
Aprendi que é
mais fácil culpabilizar a vítima. Disseram que a culpa foi minha de ter
esquecido. Todo mundo tem o direito de esquecer alguma coisa, mas ninguém tem o
direito de tomar esta coisa indevidamente para si. Isso é crime. Não estou
falando de esquecer no meio da rua, estou falando de esquecer dentro de uma
sala, no 6º andar, de um prédio ministerial.
São situações
como essas que me envergonham de ser brasileira. São situações como essa que me
embrulham o estômago, que me deixam triste e desanimada de viver nesta bosta de
país. São situações como essa que me fazem ser descrente nas pessoas. É
inadmissível, num ambiente que entram pessoas educadas, trabalhadores, acontecer
esse tipo de coisa. Isso gera um clima de desconforto horrível e também de
insegurança, pois você não tem a menor ideia de quem foi. Ou até tem, mas não
tem como provar. Falta de caráter não tem classe social.
Hoje tive uma
lição que não gostaria de ter tido. Que no Brasil, a honestidade não é a regra.
Daniele Van-Lume
Simões 19 de abril de 2017
Lamentável!
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