Já comentei por aqui que tenho lido Rubem Alves ultimamente e ele descreve, numa de suas crônicas, que descobriu a felicidade quando comeu jabuticaba pela primeira vez e aquela frutinha doce e azeda explodiu em sua boca, provocando as mais intensas sensações.
Pois bem, esse texto nunca saiu
da minha cabeça e andei pensando sobre o que era felicidade e como esse
conceito mudou para mim desde que me entendo por gente.
Felicidade, na infância, era
minha coleção de Barbies e viajar com meus pais para Porto de Galinhas. Era
férias com meus primos e andar de bicicleta todo dia. Felicidade era a
macarronada de domingo da minha mãe e tomar banho de piscina no quintal de casa
- aquelas de plástico, lembra?
Era passar por média e ficar de férias quase três meses.
Depois, na adolescência,
felicidade era dormir na casa de alguma amiga e falar bobagem até o dia
amanhecer. Era ter um corpo magro e escutar Legião Urbana ou Chico Buarque. Era
passar o mês na praia e voltar preta, torrada de sol para a escola. Felicidade
era o creme de galinha da casa de Ana Emília, o passeio no sítio do tio da
Vanessa ou o som maneiro que ouvia no quarto de Dyana, falando bobagem até
dormir. Era reunir as amigas para ir ao Cinema São Luis, no centro da cidade, e
achar aquele lugar mágico, quase uma Broadway.
Virei adulta jovem e a felicidade
passou a ser entrar no mestrado, escrever artigos, sair com meu próprio
dinheiro, tirar minha carta de motorista, defender o doutorado e passar em
concursos. Felicidade passou a ser vinhos, livros e escrever crônicas. Passou a
ser as conversas cabeça com Déa, as risadas com as histórias e presepadas de
Helô, os sushis com Marina e Romero. A felicidade passou a ser dirigir meu
próprio carro e ter meu trabalho. Viajar sozinha. Ou ir nas festinhas cult com
a Carol.
Depois dos trinta, felicidade passou
a ser constituir uma família com o homem da minha vida, trabalhar num emprego
que sempre quis, ter independência financeira e parar de me importar tanto com
estética e me importar mais com conteúdo. Felicidade foi morar numa cidade
tranquila e levar uma vida mais calma.
Mas hoje vi que a felicidade é
muito mais simples do que tantos arranjos combinatórios que casam perfeitamente
em raros momentos da vida. Sim, porque quando você está bem no amor, está com
um problema no trabalho ou com problema de saúde. Quando sua saúde está
perfeita, faltou grana para comprar algo que você queria ou aquela viagem
planejada há meses não rolou. E você vai gastar toda sua energia para obter um
sucesso efêmero, que nem sabe se virá.
Então entendi que felicidade é
menos. Menos cobrança de que tudo funcione em perfeita simbiose.
Felicidade é simples e hoje, no
meu dia, fui feliz em vários momentos.
Felicidade é o pão de queijo que
comi hoje.
É o beijo de bom dia no meu
esposo.
É o banho com meu shower gel
predileto e meu hidratante com brilho.
É o cheirinho de café fresquinho
que meu marido prepara - e é o melhor do mundo.
É o tempo chuvoso e frio, em meio
a uma seca terrível em Brasília.
É o meu almocinho gostoso e
barato, do lado do trabalho.
É aquela risada de algo que você
escutou no trabalho de uma colega num momento de descontração.
É uma reunião proveitosa, que te
dá boas ideias.
É ter minha cama quentinha para
daqui a pouco deitar.
É pagar as contas em dia.
É elogiar o visual de alguém
sinceramente.
É não guardar rancor porque a
vida é curta.
É o canto dos passarinhos às 6:20
da manhã, quando está amanhecendo.
É o biscoito de polvilho com café
do lanche da tarde.
É o requeijão raspa de tacho que
levei pra casa para provar com meu esposo.
É aquele abraço numa amiga que
você gosta.
É dizer "eu te amo"
para seu pai, mesmo que pelo whatsapp e ele retribuir o carinho.
É agradecer a Deus pelo dia, com
tantos momentos agradáveis.
É ter saúde, mesmo se a coluna
dói um pouco.
É deitar e dormir com a
consciência tranquila que você fez o melhor no seu dia. E do lado de quem você
ama.
Felicidade é cada momento, gosto,
cheiro, toque, palavra, gesto, reconhecimento, sentimento bom que você vivencia
todos os dias e que mesmo pequenos, é o que dá a graça da vida!
Com tantos momentos bons, só
posso concluir que fui feliz hoje e que amanhã serei novamente feliz, várias
vezes, ao enxergar a beleza e grandiosidade das pequenas coisas.
Esse é o segredo da arte de ser feliz.
Daniele Van-Lume Simões 18 de janeiro de 2017
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