quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A simplicidade e a felicidade


Já comentei por aqui que tenho lido Rubem Alves ultimamente e ele descreve, numa de suas crônicas, que descobriu a felicidade quando comeu jabuticaba pela primeira vez e aquela frutinha doce e azeda explodiu em sua boca, provocando as mais intensas sensações.
Pois bem, esse texto nunca saiu da minha cabeça e andei pensando sobre o que era felicidade e como esse conceito mudou para mim desde que me entendo por gente.
Felicidade, na infância, era minha coleção de Barbies e viajar com meus pais para Porto de Galinhas. Era férias com meus primos e andar de bicicleta todo dia. Felicidade era a macarronada de domingo da minha mãe e tomar banho de piscina no quintal de casa - aquelas de plástico, lembra?
Era passar por média e ficar de férias quase três meses.
Depois, na adolescência, felicidade era dormir na casa de alguma amiga e falar bobagem até o dia amanhecer. Era ter um corpo magro e escutar Legião Urbana ou Chico Buarque. Era passar o mês na praia e voltar preta, torrada de sol para a escola. Felicidade era o creme de galinha da casa de Ana Emília, o passeio no sítio do tio da Vanessa ou o som maneiro que ouvia no quarto de Dyana, falando bobagem até dormir. Era reunir as amigas para ir ao Cinema São Luis, no centro da cidade, e achar aquele lugar mágico, quase uma Broadway.
Virei adulta jovem e a felicidade passou a ser entrar no mestrado, escrever artigos, sair com meu próprio dinheiro, tirar minha carta de motorista, defender o doutorado e passar em concursos. Felicidade passou a ser vinhos, livros e escrever crônicas. Passou a ser as conversas cabeça com Déa, as risadas com as histórias e presepadas de Helô, os sushis com Marina e Romero. A felicidade passou a ser dirigir meu próprio carro e ter meu trabalho. Viajar sozinha. Ou ir nas festinhas cult com a Carol.
Depois dos trinta, felicidade passou a ser constituir uma família com o homem da minha vida, trabalhar num emprego que sempre quis, ter independência financeira e parar de me importar tanto com estética e me importar mais com conteúdo. Felicidade foi morar numa cidade tranquila e levar uma vida mais calma.
Mas hoje vi que a felicidade é muito mais simples do que tantos arranjos combinatórios que casam perfeitamente em raros momentos da vida. Sim, porque quando você está bem no amor, está com um problema no trabalho ou com problema de saúde. Quando sua saúde está perfeita, faltou grana para comprar algo que você queria ou aquela viagem planejada há meses não rolou. E você vai gastar toda sua energia para obter um sucesso efêmero, que nem sabe se virá.
Então entendi que felicidade é menos. Menos cobrança de que tudo funcione em perfeita simbiose.
Felicidade é simples e hoje, no meu dia, fui feliz em vários momentos.
Felicidade é o pão de queijo que comi hoje.
É o beijo de bom dia no meu esposo.
É o banho com meu shower gel predileto e meu hidratante com brilho.
É o cheirinho de café fresquinho que meu marido prepara - e é o melhor do mundo.
É o tempo chuvoso e frio, em meio a uma seca terrível em Brasília.
É o meu almocinho gostoso e barato, do lado do trabalho.
É aquela risada de algo que você escutou no trabalho de uma colega num momento de descontração.
É uma reunião proveitosa, que te dá boas ideias.
É ter minha cama quentinha para daqui a pouco deitar.
É pagar as contas em dia.
É elogiar o visual de alguém sinceramente.
É não guardar rancor porque a vida é curta.
É o canto dos passarinhos às 6:20 da manhã, quando está amanhecendo.
É o biscoito de polvilho com café do lanche da tarde.
É o requeijão raspa de tacho que levei pra casa para provar com meu esposo.
É aquele abraço numa amiga que você gosta.
É dizer "eu te amo" para seu pai, mesmo que pelo whatsapp e ele retribuir o carinho.
É agradecer a Deus pelo dia, com tantos momentos agradáveis.
É ter saúde, mesmo se a coluna dói um pouco.
É deitar e dormir com a consciência tranquila que você fez o melhor no seu dia. E do lado de quem você ama.

Felicidade é cada momento, gosto, cheiro, toque, palavra, gesto, reconhecimento, sentimento bom que você vivencia todos os dias e que mesmo pequenos, é o que dá a graça da vida!
Com tantos momentos bons, só posso concluir que fui feliz hoje e que amanhã serei novamente feliz, várias vezes, ao enxergar a beleza e grandiosidade das pequenas coisas.
 Esse é o segredo da arte de ser feliz.

Daniele Van-Lume Simões   18 de janeiro de 2017


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