Uma das coisas que mais gosto de fazer, além de escrever, é
cozinhar. Sou famosa pelos meus molhos lá em casa. Mas se você me perguntar
como aprendi, talvez pareça arrogante, eu responderia que já nasci sabendo.
Cozinhar envolve técnicas, algumas bem elaboradas e sofisticadas,
mas não é disso que me refiro. Isso aí eu não sei mesmo. Além do que, técnicas
se aprendem. Além de técnicas, cozinhar envolve, sobretudo, sentimentos.
Paixão. Intuição.
Misturar ingredientes, sabores, temperos, cheiros, sem uma quantidade
fixa, sem medir grama por grama e ainda assim ficar irresistivelmente bom. Como
saber que aquela quantidade de curry ficará maravilhosamente bem no frango, se
você nunca fez antes? Ou a quantidade de pimenta que vai cair super bem naquele
cozido? Você não pensa, simplesmente vai e faz.
Isso é o feijão da nossa mãe, o bolo da nossa avó, o assado do
nosso pai, ou nossos próprios pratos. Aquela comida que lembramos com afeto,
com carinho e que não há outra no mundo igual nem melhor. Aquela comida que
emociona. A maioria deles também não é expert nem tem diplomas, mas se
lembramos de alguém que cozinha incrivelmente bem mesmo sem nunca ter
frequentado uma escola de culinária na vida, é porque ela tem dom. Ela deixa
sua intuição a guiar.
Assim é comigo. Nunca experimento o sal. Mas (quase) sempre
acerto. Incrível como a intuição de colocar aquela pitada a mais, mesmo sem
provar, transforma a receita num prato elogiado digno de restaurante.
Cozinhar, como diria a chef Paola Carosella, é um ato de amor
primitivo. Alimentamos uns aos outros antes mesmo da fala, antes mesmo da
consciência a respeito das coisas, antes das invenções, antes mesmo de qualquer
expressão de arte ou técnica – seja em qual área for. Alimentar é um ato
visceral, de amor, de cuidado que desde que nos conhecemos por espécie, o
fazemos.
Por isso gosto de cozinhar - que é quando eu consigo me desvencilhar,
por incrível que pareça, de toda técnica e apresento ali, à mesa, um prato
feito com o mais puro, primitivo e visceral sentimento: o amor.
E se não havia linguagem, não havia técnica. Havia intuição. Foi
essa intuição que fez o homem dominar o fogo. Foi essa intuição que fez o homem
colocar seu alimento na panela e cozinhá-lo. Foi essa intuição que me fez
acertar o sal sempre que faço os molhos das minhas massas.
Se me falta técnica? Não tenho dúvidas! Os chefs estudam anos e
anos para fazerem pratos maravilhosos e belos. Verdadeiras obras de arte. E
claro que as técnicas se aprimoram com o passar do tempo e exigem uma dedicação
imensa para serem aplicadas, mas somente aqueles que nasceram com essa intuição
é que nos fazem recordar do prato mesmo anos depois de o termos comido.
Não percamos esse dom - o de intuir. Se deixássemos ele aflorar
tantas vezes mais em outras situações da nossa vida, ela seria certamente mais
cheia de sabor.
Daniele Van-Lume Simões 09
de janeiro de 2017
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