Quando éramos pequenos e
estávamos aprendendo a andar, os adultos estendiam a mão para nos apoiar, para
que não caíssemos e nos machucássemos. Eles iam pajeando a criança, até ela
conseguir se firmar sozinha e caminhar com seus próprios pés.
A vida era bem mais fácil e segura. Havia quem cuidasse para que não caísse,
quem te ajudasse a se levantar, caso algum tropeço acontecesse. Mas o que
ninguém contou é que, quando crescemos, esse apoio, suporte e generosidade
desaparecem.
Cresci ouvindo da minha
mãe para não esperar nada de ninguém e nunca entendia muito bem o que
significava. Quando criança, sempre tive o suporte firme e generoso das mãos da
minha mãe e do meu pai. Mãos zelosas, que sempre estiveram por perto, evitando
muitos tropeços meus. E quando não conseguiram evitar, me ajudavam a me
levantar.
Mas quando cresci,
entendi perfeitamente o que minha mãe queria dizer. A realidade é bem mais dura
e muitas vezes as mãos que um dia te apoiaram, não estão mais lá. Ou pior, essas
mesmas mãos podem até te empurrar para baixo e impedir que você se levante. Podem
ser mãos de familiares, de amigos, de estranhos. Sempre vai ter alguém querendo
impedir que você se levante. É um parente invejoso, é um amigo da onça, é um
colega de trabalho sem ética, é um estranho grosseiro. É muita gente no mundo
querendo mais mal do que bem. É muita gente no mundo fazendo mais mal do que
bem. É muita gente no mundo infeliz e querendo derrubar quem está lutando para
ser feliz.
Depois que me mudei para Brasília – uma cidade tão perfeitamente organizada e tão cruelmente fria (não
no sentido climático), aprendi que não só não devemos esperar nada de ninguém,
como não devemos pedir nada a ninguém. Aqui conheci todo tipo de gente. Pessoas muito queridas, companheiras, solícitas, cuidadosas, mas também conheci outro tipo de gente. Pessoas que podem te ajudar, muitas
vezes, e não te ajudam. Pessoas que antes eram suas amigas, não atendem mais ao
telefone ou respondem mal quando te atendem. Pessoas que sentem um prazer
sádico em ver a necessidade ou desespero do outro e não mover uma palha para
aliviar a dor. Pessoas que perguntam “onde você mora?”, antes de perguntarem “como
você está?” e acham natural isso. E se você não mora no Plano Piloto, ou não
tem sobrenome/indicação política importante, mesmo que more nas Asas Norte ou
Sul, você será ignorado com sucesso! Pessoas que se virem alguém caído, ajudam a pisar em cima. Pessoas que sempre esperam algo em troca.
Mas o foco deste texto
não é Brasília e sim a verdade que não te contaram, quando você cambaleou, lá
nos seus dois anos de idade e não te deixaram cair. Pois a verdade é que
deveriam ter deixado você cair, se estrepar no chão. Deviam ter deixado você
ralar os joelhos, quebrar um pé (ou um dente), ganhar uns roxos. Você certamente
iria aprender a se levantar em situações de dificuldade muito mais facilmente. Sem depender de ninguém. No pain, no gain.
Por isso, não espere que
te estendam a mão, não espere que te ofereçam ajuda, que te segurem para não
cair. Não espere solidariedade, não espere bondade, não espere reconhecimento. Não
espere nada de ninguém nem peça nada a ninguém. Aprenda a se levantar sozinho,
mesmo com o joelho ralado, o pé torcido, o tendão machucado. Faça um esforço e
levante-se. Se você não se levantar, passarão por cima. Se ninguém te oferecer
ajuda, nem olhar para sua necessidade com solidariedade, levante-se. Sozinho ou
sozinha, não importa. Levante-se! Você não tem outra escolha a não ser se
levantar e seguir em frente.
Mas se em meio a tudo
isso, alguém resolver te estender a mão e te oferecer ajuda para se levantar –
sem interesse -, aceite. Agradeça a essa pessoa e a Deus. Provavelmente essa
pessoa deve ter se machucado muito e seus joelhos ainda doem. E essa dor a faz
lembrar que um pouco de solidariedade e empatia são necessárias para sarar seus
próprios machucados.
Lembre-se disso quando os seus estiverem sarando.
Lembre-se disso quando os seus estiverem sarando.
Daniele Van-Lume
Simões 14 de dezembro de 2018