sexta-feira, 24 de março de 2017

Amélia ou Maria Quitéria - a escolha é sua


Segunda-feira passada, enquanto me atualizava nas notícias (ruins, pois é só o que tem ultimamente) pela internet, me deparei com uma matéria interessantíssima no site da BBC Brasil.
A matéria falava sobre mulheres fortes, bem à frente de seu tempo, e que deveríamos estudar mais sobre elas nas escolas (Segue o link: http://www.bbc.com/portuguese/salasocial-39295084). Li o resumo sobre a vida de cada uma das 10 e teve uma que me chamou a atenção: Maria Quitéria.
Já tinha ouvido falar nesse nome, mas numa cultura patriarcal machista como a que vivemos, mulheres como a Maria Quitéria são mal vistas e mal faladas – em todos os sentidos. Fala-se pouco sobre elas ou nada e acredito que os jovens da geração atual sequer imaginam quem foi esta guerreira.
Em resumo, Maria Quitéria integrou as Forças Armadas do Brasil para lutar a favor da Independência da República. Enquanto fala-se muito em Dom Pedro I por ter proclamado a Independência, quem deveria ter roubado a cena mesmo deveria ter sido esta mulher.
Maria Quitéria integrou as Forças Armadas clandestinamente, para lutar em prol de um ideal, que era a liberdade do seu país. Para isso, ela fugiu de casa, cortou os cabelos e se vestiu de homem. Foi para frente de batalha, na Artilharia. Por conta disso, foi descoberta por seu pai. No entanto, o Major da missão, admirado com a disciplina, bravura e destreza com as armas dessa mulher, pediu ao pai dela que ela permanecesse na batalha.
Aí, muito homem recalcado diria logo pejorativamente: é sapatão! Mas que nada, Maria Quitéria deu um tapa na cara da sociedade machista que acha que mulher com bravura tem a ver com a orientação sexual dela. Depois da batalha, ela casou-se e teve uma filha e viveu feliz para sempre com a consciência tranquila de que lutou por seu ideal até alcança-lo.
Não importa se ela se vestiu de homem, se seria homo ou heterossexual, se ela usou armas de fogo, o que importa aqui é que ela não mediu esforços para alcançar o que acreditava ser possível: a liberdade do seu país.
Só que, claro, numa sociedade como a nossa patriarcal, quem aparece é o Dom Pedro I, numa pose estranha – quase suspeita, ao lado do rio Ipiranga, posando de gostosão. Não é interessante falar sobre as Marias Quitérias para não dar ideia a pobre dona de casa que vive oprimida com a árdua tarefa de cuidar da casa, do marido e parir dezenas de filhos.
Qualquer Maria que seja à frente do seu tempo é desmerecida ou omitida. Veja Maria Madalena... Até hoje falam que ela era uma prostituta, mesmo que em canto nenhum na Bíblia faça referência a isto sobre ela. Sabe por quê? Porque ela foi uma das maiores influenciadoras e seguidoras de Jesus, em meio a um bando de homens barbados. Ela mostrou-se forte, não omitiu sua fé como fez Pedro negando Jesus três vezes, e seguiu ao lado do Messias até o fim. 
Assim como chamam a mãe de Jesus de virgem – um fardo até para as mais recatadas puritanas. E daí se ela era ou não virgem? Desde quando virgem é um adjetivo indicativo de caráter? Maria educou o Filho de Deus, com valores que poucos hoje conhecem. Só por isso ela já é o máximo. Mas a nossa sociedade machista adjetiva todas as Marias: virgem, prostituta, sapatão. Vamos desmerecer essas Marias todas.
Quantas Marias Quitérias você conhece? Quantas mulheres fortes encaram máquinas, estradas, plateias, reuniões com o filho doente em casa, cobranças para ser firme durante a TPM, que trabalham como policiais, bombeiros, médicas, professoras, engenheiras, cientistas, que batem estaca, carregam cimento, dirigem ônibus, vendem doces no tabuleiro para sustentar a família?
No fundo, conhecemos muitas delas. No fundo, sabemos que essas são mulheres fortes, de verdade, não aquela Amélia bocó que ficava assistindo sua vida passar ao lado de um fracassado. No fundo, existem muitas Marias Quitérias por aí.
Esse espírito de luta, de ter um ideal e lutar por ele, não medir forças por algo que você acredita que pode fazer o mundo um lugar um pouquinho melhor de se viver, essas Marias Quitérias nunca vão perder.
E são essas mulheres fortes e inspiradoras que me servem de exemplo todos os dias, quando começo meu dia. Que orgulho se eu, um dia, for um décimo do que a Maria Quitéria foi.
E você, tem espírito de quê? Amélia ou Maria?


Daniele Van-Lume Simões                      24 de março de 2017

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