Quase uma hora da manhã, estou sem sono e começo a filosofar sobre
a vida. Eu deveria estar dormindo já, sonhando até... Mas o que é sonho?
Quando somos crianças, sonho é imaginar o futuro, como seria ser
adulto, como seria trabalhar, como seria usar salto alto e batom (no meu caso).
Quebrei vários saltos da minha mãe e estraguei toneladas de maquiagem dela que
tiveram como preço algumas palmadas e horas no quarto de castigo sem TV. Mas
não tinha problema, eu era criança e minha imaginação andava solta. Eu
imaginava que seria rica, moraria numa bela casa com piscina, teria um carro
rosa conversível (sem trabalhar na Mary Kay obviamente...), teria cachorros,
uma família linda e filhos, dois: um menino e uma menina. Ainda seria
astronauta ou cientista. Ah, e seria famosa. Quantos sonhos para uma menina só!
De lá pra cá, os sonhos mudaram, outros tornaram-se distantes e
alguns realizei. A família linda eu construí, ainda que sem filhos. Não virei
astronauta, virei cientista. Tudo o que é relacionado à ciência biomédica me
fascina até hoje. Estou longe de ser rica, meu carro não é rosa (ainda bem!) e
moro num apartamento sem piscina. Vi que realizei apenas o que realmente
importa.
Hoje os meus sonhos são outros. Sonho em ter muita saúde para
trabalhar no que gosto, sonho em ter sabedoria para manter minha família unida,
sonho em ter um gato em vez de um cachorro, porque cachorros são cansativos
demais e hoje, mais do que ser astronauta, eu só quero ser feliz na maior parte
do tempo da minha vida. Com minha família, com meu trabalho e com meus amigos.
Os sonhos estão bem mais modestos, mas não menos importantes. Eles
só se adequaram às experiências de sua vida, dando um peso às coisas que
importam de verdade. Se você perguntar hoje qual o meu maior sonho? Ver os
sonhos das pessoas que eu amo realizados. Ver o sorriso do meu marido, ver meu
pai tranquilo, ver minha mãe animada, ver meus amigos bem-sucedidos e claro, me
ver parte integrante dessa felicidade e sucesso.
Os sonhos, depois de certa idade, passam a não ser só seus.
Começam a envolver outras pessoas, outras realizações que não dependem de você
apenas. Você tem seus desejos e sonhos, mas eles perdem o sentido se não
envolverem as pessoas que são importantes na sua vida. É quase um sonho
solidário.
Não acredito em realização pessoal, se as pessoas que te cercam
não estão felizes. Realizações envolvem relacionamentos interpessoais, seja no
trabalho seja com os familiares e amigos. Por isso a felicidade é uma via de
mão dupla. Não existe felicidade na solidão. Existe equilíbrio, paz interior,
tranquilidade, conexão espiritual, mas felicidade é uma energia que circula
pelo menos entre duas pessoas, é uma energia compartilhada, assim como os sonhos
começam a ser com o tempo compartilhados. Compartilhar sonhos é compartilhar
felicidade e realizações.
Se aos 34 anos eu penso assim, pode ser que eu chegue aos 60 sem
sonho nenhum genuinamente só meu. Mas se isso acontecer, terei a certeza que
compreendi o verdadeiro sentido do altruísmo, o verdadeiro motivo de sonharmos
e consequentemente, o verdadeiro valor da vida.
Daniele Van-Lume Simões 04
de abril de 2017
Quando agente amadurece com conhecimento do sentido da verdadeira vida material e espiritual é isso que vc falou.Amei .Parabéns. Ainda tem seres humanos longe dessa realidade.É lamentável.
ResponderExcluirme lembrei do filme "Na natureza selvagem" a mensagem que o filme passa é "Happiness is only real when shared", as vezes precisamos perder tudo para perceber isso.
ResponderExcluirExatamente, meu amigo!
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