Quando eu era criança e estava gripada ou com falta de vitamina C, era comum minha mãe
colocar numa colher o sumo puro de um limão com um pouco de mel para eu tomar. Era
tiro e queda, aliviava a dor de garganta na hora. Mas mesmo com o mel, o negócio
era terrivelmente azedo, principalmente para o paladar infantil dos anos 80,
que tudo era chiclé ploc, balinha xaxá e 7belo. Este último chegava a travar a
mandíbula de tão doce.
Lembro
que certa vez, como criança curiosa que fui, peguei um pedaço de limão de frente
para o espelho e chupei só para ver a minha reação. A careta que fiz era muito
engraçada. Me divertia com a espontaneidade das caretas, mesmo que para isso
tivesse que sofrer um pouco. Não importava, o que era legal era ver como eu
ficava ridícula com cada careta que eu fazia.
Hoje,
as caretas não são tão visíveis. Hoje, as caretas são internas. Quantas pessoas
sisudas vemos por aí, com cara de quem chupou limão azedo. Pessoas rancorosas
que carregam uma careta interior que ninguém merece. São pessoas que reclamam
de tudo: do tempo, da temperatura, de acordar cedo, de acordar tarde, da
comida, do sono, da falta de sono, do feriado, da segunda-feira, de cólicas, da
vida. São pessoas que vivem buscando azedar o dia dos outros, com um comentário
maldoso, uma praga jogada, um resmungo inaudível. São pessoas que vivem de mimimi
e por isso são extremamente cansativas. Se vitimizam. Bléééé pra elas.
Pessoas
com careta interior são aquelas que esquecem de colocar um pouco de mel na sua
colherada diária de limão. Ou de colocar um espelho na sua frente para que, na
falta de mel, pelo menos tenha-se humor.
É inevitável: todo dia teremos nossa
dose de limão puro, ácido, que trava a garganta. A vida adulta é assim, cheia de
limoeiros. Mas a escolha de azedar seus dias e dos outros ou de rir-se das
caretas é sua.
Daniele
Van-Lume Simões 14 de novembro de 2017
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