terça-feira, 8 de novembro de 2016

A cobrança e a ressaca


Outro dia escutei de alguém que eu me cobro muito. ‘Não se cobre tanto’, dizia a mensagem. É verdade. Cobro-me demais, o tempo todo, desde pequena. Cobro-me ser magra, ser eloquente, ser ética, falar honestamente sobre sentimentos, dar explicações para que não haja mal entendidos, me cobro não errar. Ah, como me cobro este último! Putz, quantas noites e noites de sono porque houve a possibilidade de alguém entender errado o que eu disse.
Mas, depois dessa mensagem, mudei de ideia. Acho que devemos nos permitir errar. Não errar intencionalmente, devemos evitar fazê-lo, claro, mas se errar, está feito. Então... Curta sua ressaca. Ser certinha o tempo todo é desgastante. Permitir-se uma ressaca, seja ela alcoólica ou moral, uma vez na vida, é um aprendizado, eu diria até mesmo, salutar. 
Permitir-se ressacas faz você enxergar seus limites, saber o que e quem te faz bem e até onde ir, seja na quantidade de copos ou de atitudes. Você precisa de pelo menos uma ressaca na vida para saber seu limite físico e/ou moral. Faz você perceber a hora de cair fora, seja da festa ou da vida de alguém.
Conversando com uma amiga sobre minha mania de ser sempre certinha nas palavras e atitudes, cheguei à conclusão que ressaca é algo natural, literalmente falando. Vem da natureza. Vem das águas. Olha o mar, aquele tamanho todo, se permite ressacas de vez em quando, tsunamis, mudanças, devastadoras, mas mudanças. Varre tudo, liga o foda-se, salve-se quem puder – e sempre há sobreviventes. Somos 70% de água, ou um pouco mais. Se somos a maioria de água, por que não uma ressaca de vez em quando, sem tanta culpa assim? Seja alcoólica ou moral, ou ambas? Imagina só a calmaria que vem depois, após alguns engovs! E olha, você irá sobreviver. Isso pode trazer uma grande e devastadora mudança. De ressacas e tsunamis é que amadurecemos, escolhemos nossos caminhos, selecionamos nossas companhias. Aprendemos as maiores lições de convivência e sobrevivência. Permita-se uma ressaca, seja ela de qual espécie for. Pelo menos uma vez. A vida é curta. Como diria uma amiga minha: ‘Não se cobre tanto’. Mas sem esquecer que, após a ressaca, a calmaria sempre vem, independente de quantas doses de álcool ou de verdades você engoliu.

Daniele (setembro de 2013, adaptado em 08 de novembro de 2016)



2 comentários:

  1. A ressaca faz parte do ser humano e devemos sim nos permitir! Vc esta certíssima! Agora, lembre-se que a ressaca boa precisa vir seguido de memoria, para que o gostinho do amanha, que seja bom ou ruim, ser ainda melhor!!! Muito bom Dani!

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  2. Noely, perfeita sua colocação!!! Seja sempre muito bem vinda!

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