Se eu pudesse definir o que sou, não conseguiria dizer outra coisa
que não fosse escritora. Todos os outros adjetivos eu aprendi a ser, sejam bons
ou ruins – vieram de experiências pessoais ou estudos na área, com diplomas e
títulos. Mas ser escritora não. Escritora amadora, mas escritora. Nasci
escritora. Até o nome ‘amadora’, embora lembre algo principiante, ou ainda,
sinônimo de que é algo feito por lazer, me soa agradável. Mas é isso mesmo.
Escrevo por lazer, de acordo com as experiências que acumulo, que
vivencio ou simplesmente observo. Escrevo por nada ou por algum motivo
especial. Escrevo. Então acredito que sempre serei principiante, pois há um
mundo inteiro a ser descoberto e escrito - e sempre haverá.
Não tenho medo de errar quando escrevo. Sou humana. Mas não estou
falando de regras de português apenas – falo de opiniões, ideias, às vezes tão
firmemente defendidas, e outras desconstruídas com o passar dos anos e com a
chegada da maturidade. Mas sempre escrevo com paixão e por amor.
Amor às palavras, tão profundas, tão lindamente articuladas numa
frase. Palavras intensas – apaixonadas – para expressar uma ideia. Amor às
palavras fortes, e até mesmo grosseiras, mas vivas! Amor à mágica da conotação,
das metáforas – ou quando quero ser direta – da denotação. Amor às conjunções
que explicam melhor o que queremos dizer, que conectam as palavras e os
sentimentos do leitor e do escritor ou até mesmo do ouvinte.
Ah, e o sujeito indefinido, ou ainda, o oculto, que você diz, sem
dizer quem disse, claramente? Quantas vezes na vida não agimos indefinidamente,
ocultamente – sendo que neste último suspeitam de nós? Seja para preservar
alguém ou a si próprio?
O que dizer dos verbos omitidos numa sentença por uma única
vírgula. Vírgula que diz pausa. Pausa para pensar – ou neste caso – pausa para
agir. Há os verbos sem sujeitos. E os meus preferidos, os verbos intransitivos.
Eles, simplesmente, são. Fazem acontecer. Não dependem de ninguém para terem
sentido. Amar deveria ser assim, já dizia o poeta Mário de Andrade. Completamente
intransitivo e sem dúvidas do que significa. Ame. Viva. Brinque. Durma. Relaxe.
Brincar com as palavras é algo enriquecedor. Lê-las e se emocionar
verdadeiramente é algo sublime, íntimo. Hoje, nos tempos modernos, tudo é
expresso. Rápido. As palavras foram erradamente abreviadas, violentadas,
engolidas. Blz, Tb, Vlw. Enfiadas em 140 caracteres, com abreviações
estapafúrdias. Mas o encanto pode ser recuperado, basta deixar a imaginação
fluir e os dedos trabalharem junto à mente e principalmente, ao coração. Deixar
os intransitivos aflorarem, as conjunções conectarem (com perdão da
redundância) e o que estiver oculto, vir à tona, sem medo do que ou de quem vai
aparecer.
Escrever é desnudar-se sem dó, sem amarras, sem correntes com o
que não pode ser dito. Escrever o que se sente e o que se pensa é um ato de
coragem. Escritores são corajosos. Dão a cara à tapa e não estão nem aí com o
tamanho da surra. Só querem se expressar. Os seres humanos já são, por
necessidade ou não, tão dissimulados ao longo da vida, então não se permita ser
também no papel. Nele, você encontra a liberdade. A verdadeira liberdade. Honre
o que você escreve. Escreva você. Não tenha medo de si próprio. Desnude-se.
Seja intransitivo. Seja livre.
Daniele Van-Lume Simões 08 de
novembro de 2016
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