Ouvi hoje uma coisa que me
incomodou bastante. Às vezes, queria ouvir menos. Mas ouvi e não foi bom. “A
medalha de ouro merecia ter ido para a Marta, mas estão lamentando que foi para
o Neymar”. (Tom irônico). Primeiro: Quem lamentou isso, cara pálida?
Segundo: a medalha não foi pro Neymar – como bem lembrado por uma amiga minha –
e sim para um time.
Homens assim se alegram com o
“fracasso” das mulheres. Mas será que foi fracasso? Ser eleita várias vezes
melhor do mundo no que se faz, mesmo sem ter os patrocinadores, os milhões, as
regalias que seus colegas de profissão homens têm, mas nem por isso desistir?
Lutar até o fim, seja no esporte, seja na vida. Lamenta-se fracasso, não força.
Lamenta-se bunda molência, não garra. Lamenta-se machismo, não orgulho de jogar
pelo seu país e pelo que se acredita.
Mulheres que se destacam, que
lideram, que ganham salários justos são minoria, mas temos que lutar pela igualdade
de gêneros. No futebol ou em qualquer outra profissão. Essa de que “ah, o
Brasil é um país machista mesmo" – ou qualquer outro país – é uma falácia
que os homens e mulheres usam para permanecerem inertes frente a tanta
injustiça profissional e salarial. A tanta ironia. A tanta cara de pau. Inércia
é cômoda, dispende nada de energia e mudanças. Mudanças acontecem com o caos,
palavra assustadora, mas utilíssima. S
Muitas coisas me incomodam profundamente.
Ser mulher e jovem e competente é quase um desacato à sociedade falida
provinciana que vivemos, com senhorzinhos de engenho com canecas (e barrigas)
de chopp, em seus carros luxuosos, com uma mulher pendurada a tiracolo. Afinal,
mulher competente tem que ser idosa, vaidade zero, mal arrumada. Tem que ser
sapatão. Tem que ser “homem”. E se além de jovem, competente, inteligente, ela
for bonita? Nossa. Ou está de caso com alguém ou é muito fútil porque combina o
sapato com o esmalte. O mais impressionante disso tudo é que comentários
assim vêm das próprias mulheres. De pessoas que deveriam ser parceiras.
Igualdade de gêneros é uma
realidade necessária, que talvez demore a vermos – ou talvez nem consigamos
essa felicidade enquanto estivermos neste plano – mas temos que fazer nossa
parte. Se as ativistas do WLM não queimassem sutiãs, talvez não votássemos, não
trabalhássemos, não crescêssemos na carreira, não tivéssemos o
direito de sermos belas, seja do lar ou dos negócios. Recatada eu ou não. Isso
eu nem comento. É deselegante demais comentar vida íntima.
Ocupam-nos até o limite da
capacidade de administrar uma vida com alguma sanidade. Somos vítimas de um
machismo descarado e ao mesmo tempo, somos inertes ou ocupadas demais para
rebater tal comportamento. Uma bola de neve perfeita para que o machismo
perdure. E claro, a culpa é nossa. Só e sempre nossa.
Quando pequena, enquanto todas
minhas amigas brincavam de boneca e sonhavam em casar e ter filhos, eu me
imaginava discursando para uma plateia imensa, num idioma estrangeiro, de
tailleur, chiquérrima - a cara do sucesso. Na OMS. Rá. Estou chegando lá.
Hoje, a cobrança é outra. Temos
que ser mães, donas de casa, esposa, fazer sexo dia sim dia não, levar dinheiro
pra casa e sermos fortes e profissionais, aguentar assédio moral e sexual
porque “faz parte” e nada de cólica, TPM, dor de cabeça ou mandar tudo à merda
e comprar uma prancha e se mudar de vez pro Havaí. Cobrança para ser mãe...
Afff, me irrita profundamente as pessoas não respeitarem o direito de escolher
você NÃO querer ou sonhar com isso. Sempre quis adotar, mas não decidi se quero
parir. Sou menos mulher por causa disso? Algumas pessoas acham que sim.
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