Já não tenho mais saco para aparências. Dizem que estou ficando velha. Ou chata.
Ou as duas coisas. O fato é que as pessoas estão cada vez mais cansativas. É um
tal de ativismo virtual sem nem saber por que, é um monte de foto com filtro, é
uma necessidade de compartilhar o que comeu, o que vestiu, pra onde foi, só o que
há de melhor na vida. Como se a vida fosse só isso.
Deixo
claro que isso não é um texto de recalque. É um texto sobre realidade e um
pouco de nostalgia. As pessoas só querem mostrar o que têm de melhor porque a
vida já é dura. Pra que mostrar desgraça, se a vida já é cheia de dificuldades?
Isso eu concordo e assino embaixo. Mas elas param por aí. Esquecem que existe
algo além do instagram e que as relações são maiores que comentários no
facebook. Aparentam viver num mundinho perfeito, com pessoas perfeitas, com
festas perfeitas, com lugares perfeitos, com drinks perfeitos. E é exatamente
isso que elas querem, parecerem perfeitas. Quanta previsibilidade, ignorância, mesmice.
Todo mundo sabe que isso é uma farsa, que perfeição não existe.
Veja
bem, não é expor seus problemas, suas dores ou suas feridas em rede social.
Afinal, rede social não é (ou não deveria ser) casa dos horrores e isso seria
burrice. Mas o que vejo é que falta genuinidade e sobra superficialismo. Faltam
sorrisos sinceros e sobram maquiagens perfeitas com cílios postiços. Falta
conteúdo e sobra instagram. Essa superficialidade me incomoda profundamente,
não a felicidade dos outros. Quero mais é que todos sejam felizes e bem-amados,
porque o mundo está do jeito que está por conta de tanta gente mal-amada solta
por aí... Gente mal-amada e mal resolvida é um perigo.
Mas
é tão bom ligar pra uma amiga, aquela verdadeira, do peito e poder desabafar,
ouvir a voz, a opinião, às vezes dura, mas sempre honesta, sobre algo que você
contou. Sem fotos, sem curtidas, com sinceridade. Muito melhor do que digitar,
curtir, postar... isso sim é impessoal, frio. É tão bom sentir-se humano, com
falhas, defeitos, medos, ansiedades e ter com quem compartilhar. É tão bom ter
sentimentos e menos páginas sociais. Em vez de postar fotos sorrisos Colgate,
depois de engolir um lexotan. É muito melhor poder chorar na frente de alguém
querido e sentir-se acolhida pela amizade/amor desta pessoa. É tão bom abraçar
alguém que você ama.
Tudo,
às vezes, me parece tão superficial e falso nos dias atuais, que chega a doer.
Parece que não pertenço a esse mundo ‘virtual’. Chega a dar uma profunda
tristeza por ver que a grande maioria das amizades se resume a curtidas,
baladas, fotos e comentários sem importância. Não é que não se pode mostrar que
é feliz, não é isso. Pelo contrário, felicidade é algo maravilhoso de se ver. O
que eu falo é sobre não querer viver essa felicidade eterna, falsa, desonesta,
com você mesmo. Isso tudo, no final, isola as pessoas. É... Talvez seja o
propósito dessas redes – isolar as pessoas para que elas fiquem cada vez mais
dependentes disto - e eu, com a minha
velhice/chatice, não consigo entender. E nem quero.
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