Sabe quando a gente acha que já
viu de tudo? Pois bem. Nunca chegará esse dia. A minha certeza foi hoje. Seria
um dia de trabalho normal, se não fossem os pokemons em cima da mesa da colega,
ou espalhados pelo corredor do Ministério – sem trocadilhos com os funcionários
virtuais da Câmara. Pessoas com os celulares em punho, andando como zumbis,
atrás de monstrengos virtuais de nomes exóticos – ou eróticos. Taí o Pikachu
que não me deixa mentir. Aliás, tudo hoje é virtual. A conta bancária, as
informações via e-mail ou redes sociais, o relatório digital, a reunião via
Skype, a mensagem do whatsapp. Menos o tempo.
Esse, meu caro, é realíssimo,
embora relativo.
O tempo perdido em frente a um
computador, geralmente 8h diárias de trabalho ou mais, mais o tempo perdido
checando o celular e agora o tempo perdido olhando para a cara de monstros em
vez de olhar para a cara das pessoas. O tempo perdido procurando bichos
virtuais que de nada servem, sendo que não procuramos aquele amigo que não
falamos há meses. O tempo perdido andando pelas ruas – e só é perdido porque se
perde também o pôr do sol ou uma árvore florida que está ali, bem no meio do
caminho, em toda sua beleza e realidade, porque os olhos não saem da tela do
celular.
Depois de hoje, estou
assustada. Pessoas conversando na maior naturalidade sobre onde existem
pokemons. Pessoas sendo atropeladas, caindo de penhascos, se afogando, atrás
desses bichos virtuais. Pessoas sendo assaltadas ou passando apuros até maiores
em nome de uma caça a não sei lá o que para coisa alguma. Vi que não há limites
– tanto para a genialidade quanto para a alienação. O gênio que criou esse jogo
conseguiu alienar milhões de pessoas – e rapidamente. Genialidade e
imbecilidade estão andando de mãos dadas, vejam só. Vi que não há mais um senso
do que é importante ou útil para gastar seu tempo.
Deixamos de selecionar o que é
importante, ou mudamos radicalmente nossos parâmetros sobre a importância das
coisas e das pessoas. Apenas o tempo é gasto. E não volta. O importante é estar
na moda, atualizado na matrix que tudo tem se transformado.
Desculpem-me os “caçadores
virtuais”, mas sou do tempo antigo. Não consigo me sentir parte dessa
virtualidade extrema, e nem quero. Não quero andar de cabeça baixa, não quero
ver o que não existe e principalmente, não quero que a coisa mais interessante
para olhar no meu dia seja a tela do meu celular.
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