quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A patologia e a vida


Estou há quase uma semana fora de casa, em Belém, Pará. Vim acompanhar um treinamento de um grupo de patologistas para realização da técnica de imunohistoquímica. E tive boas surpresas.
O grupo que conheci é maravilhoso e me deu uma verdadeira lição de coragem e humildade. Mesmo com títulos e formações acadêmicas, mesmo trabalhando em renomadas instituições, eles mostraram humildade em aprender, em se colocarem como alunos. Disponibilidade em adquirir um novo conhecimento, independente do quanto já saibam. Mostraram solidariedade para com os colegas e com organizadores do evento. 
Trocamos ideias, a maioria do grupo mais velha que eu, mas não me excluíram. Pelo contrário, compartilharam comigo suas histórias de vida e de profissão. Pude aprender um pouquinho com cada um que conversei. Alguns fiquei mais próxima, outros conversei pouco, mas me senti privilegiada por ter tido a oportunidade de conhecer profissionais tão especiais.
Especiais porque lidam todo dia com a morte, com autópsias, necrópsias e ainda assim não perderam a doçura. Isso é mais que escolha, é um dom. Especiais porque dedicam seu tempo a elucidar a causa da morte - e mesmo sabendo que não podem devolver a vida - sabem que o laudo traz um conforto para a família ao colocarem um ponto final numa angústia quando é sabido o motivo da perda do ente querido. Dedicam seu tempo à ciência, estudando com afinco cada técnica que aparece, cada doença (nova ou antiga) que se torna epidêmica para melhorar a qualidade da vigilância do país. 
São profissionais que muitas vezes não conhecemos, pois só nos aproximamos deles na dor maior da perda - e às vezes nem assim. Essa semana eu conheci um grupo, de diversas idades, costumes, locais. Histórias de superação, histórias de reflexão, histórias de vida. Pessoas que guardarei com carinho na memória.
A estes profissionais que corajosamente escolheram lidar com a morte todos os dias, obrigada por me lembrarem, com suas experiências pessoais e profissionais e com humildade, do valor imensurável da vida.

Daniele Van-Lume Simões   09 de fevereiro de 2017


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