quarta-feira, 8 de março de 2017

A incontinência verbal

Hoje li uma expressão que me chamou a atenção: incontinência verbal. Já vi incontinência urinária e incontinência pigmentar (um problema genético em um dos cromossomos), mas incontinência verbal não. E achei o maior barato.
A história é de uma freira que usa uma ferramenta de rede social para escrever o que pensa – e claro, como todo mundo, ela é mal interpretada. Principalmente por ser direta. Poucas pessoas estão acostumadas a isso.
Copio, aqui, um trecho da entrevista: "Reconheço que às vezes tenho incontinência verbal e que não sou prudente. Mas sempre penso na boa fé das pessoas e não nos mal-intencionados", diz. "Não tenho medo das pessoas, mas sim dos fundamentalistas e os que querem ver algo mau onde não há", acrescenta.
No Brasil, ser direta é ser deselegante, porque a maioria das pessoas gosta mesmo é de floreio e puxa-saquismo. Ser direta é ser rude ou grossa, porque as pessoas gostam de palavras difíceis para mostrar eloquência e impor respeito. Ser direta e pragmática, então, meu Deus, é quase suicídio social. Experimente, e se sobreviver, me conte.
Aí, vejo a reportagem e uma pessoa como outra qualquer, uma mulher, forte e doce ao mesmo tempo, uma mulher que inclui as pessoas e quer ser incluída ao adotar novas formas de comunicação sendo julgada pelo que pensa ou fala/escreve por gente que nem se dá ao trabalho de compreender sua fala/escrita.
Quantos de nós não julgamos alguma vez alguém mal por falar o que sente ou pensa, sendo que a falsidade é algo muito mais dolorido de enfrentar? Quantas vezes nós fazemos rodeios para expor um assunto com medo do que os outros vão falar depois? Quantas vezes calamos, sendo que calamos não por evolução ou resignação, mas por covardia de enfrentar uma situação ou alguém?
Para os que me conhecem, tenho fama de ser direta. Para os que não me conhecem direito, mas que adoram um julgamento, eu pareço rude e arrogante algumas vezes. Não sou dona da verdade, claro que não, mas não gosto de gente que finge ser uma coisa que não é ou que não sente. Já me importei muitas vezes com o que pensavam ou falavam por conta do meu jeito, mas hoje vejo que não me importo mais.
Com o passar dos anos, passei a ter alguns filtros para que não fosse confundida com inconsequente. Afinal, vivemos em sociedade. Mas se tiver que falar algo para alguém, vou falar, mesmo que erre. Não tenho problema em reconhecer quando erro. Porém, temos que separar o que de fato é ofensivo de discussões baseadas em melindres de alter ego. Para estes últimos, definitivamente, não tenho paciência. Aí sou curta. E grossa.
Por isso, prefiro mil vezes a incontinência verbal – minha e das pessoas, do que a falsidade de um “oi, querida” quando na verdade querem te ver pelas costas.
Obrigada, irmã Lúcia, por lutar, mesmo que inconscientemente, contra a hipocrisia.
Segue o link da matéria:

Daniele Van-Lume Simões    08 de março de 2017


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