quarta-feira, 29 de março de 2017

A Gratidão aos Leitores


Esse texto é para fazer uma homenagem à razão pela qual escrevo: os leitores. Sem eles, as palavras não teriam sentido. Seriam apenas aglomerados de letras, sem capacidade de emocionar ninguém. E sem emoção, não há sentido de ser.
Quanto idiomas existem no mundo? Talvez centenas ou até mesmo, milhares, pois existem os dialetos. E quantos se perderiam com o tempo se não houvesse a escrita e quem os lessem? Talvez todos.
Por isso, para quem escreve, o leitor é tão importante. É a certeza de que as palavras, unidas, vão tocar alguém que esteja precisando lê-las. É a certeza que as palavras vão despertar alguma emoção, nem que seja contrária à sua. É a certeza que as palavras não serão etéreas. Elas se eternizarão através da materialização num papel, num livro ou numa tela de computador. Não importa. Elas estarão lá, registradas, por quanto tempo for necessário e fizer sentido.
A escrita aproxima de você quem nunca te viu, mas que, de alguma forma, se identifica com suas ideias e sentimentos. Faz com que nos sintamos próximos de alguém, como nos sentimos quando encontramos um amigo de longa data ou um parente querido.
Eu mesma me sinto muito próxima a Rubem Alves, mesmo após seu falecimento. Quando o leio, imagino-me numa varanda, com um café fresquinho coado, olhando a paisagem e proseando sobre a vida e a simplicidade da felicidade.
Quando estou inquieta, sinto-me a melhor amiga de Martha Medeiros. É como se estivesse numa sala, tomando um bom vinho com uns queijos e filosofando sobre a vida e as relações humanas e dando boas risadas.
Quando estou introspectiva, aproximo-me de Lia Luft. Também estaríamos numa sala, mas sem falatório, lendo algo profundo e tocante e depois nos olharíamos e daríamos apenas um sorriso cúmplice de que o que lemos foi algo transformador. Tudo isso no mais profundo silêncio.
Quando estou romântica, sou a amiga boêmia de Fernando Pessoa. Com ele, imagino-me numa mesa de bar, conversando sobre o amor e rabiscando versos para o meu amado. Um beijo, meu amor!
Quando estou descrente, janto com Schopenhauer e conversando com ele, vejo a realidade do homem, nua e crua, visceral e sem máscaras. Imagino-me tomando um conhaque com café após um jantar e falando da falsidade que é a sociedade. E ficando p da vida com esta constatação.
Quando estou filosófica, recebo cartas do meu querido amigo que mora longe, Nietzsche. Estou sozinha, numa cadeira de balanço, olhando a chuva cair num campo verde e o céu cinza, com seus textos nas minhas mãos e emocionada com suas reflexões.
Quando me irrito com a política, visito Chico Buarque num sábado à noite. Tomo um whisky numa varanda de frente para o mar do Rio de Janeiro e dialogamos sobre a merda que está o país. Até arriscamos algumas composições.
Quando quero intensidade, passo na casa de Clarice (Lispector) e a vejo fumando num canto, com os olhos de quem não dormiu, mas com a vivacidade de uma criança de 5 anos. Ela abre seu caderno e lê para mim o seu mais novo texto com a avidez de uma adolescente encantada com as palavras recebidas do amado. E eu fico mais encantada ainda com a profundidade de suas inquietações.
Por fim, quando estou grata, olho para o lado e dou um abraço afetuoso no meu melhor amigo, do olhar mais bondoso que já vi, Jesus Cristo. Imagino-me observando cada ensinamento seu, apenas ouvindo e deixando as suas palavras e sabedoria tão profundas tomarem conta de mim e me lembrarem que é preciso evoluir espiritualmente para alcançar a felicidade plena. Assim como me sinto quando leio a Bíblia.
            Por sentir tudo isso quando leio meus autores preferidos, é que você, caro leitor, é o maior presente que eu posso receber todos os dias, cada vez que meus textos são acessados e lidos por vocês. Por isso, vocês merecem não só os meus agradecimentos, mas principalmente o meu respeito. Por isso escrevo com alma.
Este é o texto 101 do blog “Café com pimenta é refresco” e sinto-me felizarda cada vez que consigo expressar em palavras escritas as minhas ideias e honrar cada acesso, cada compartilhamento, cada um que se identifica com o que escrevo.
Obrigada, caros leitores!

Daniele Van-Lume Simões    29 de março de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário