segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Aplicativos mal aplicados



Há muito tempo que ando incomodada com o LinkedIn. Na verdade, não com o LinkedIn em si, mas com uma parte dos usuários. 
Esta ferramenta é utilíssima, inclusive eu mesma posso comprovar: arrumei um emprego numa multinacional americana através dele. Me acharam, me entrevistaram e eu aceitei. Experiência enriquecedora. 
O LinkedIn é uma espécie de Facebook profissional, que você põe (ou deveria por) uma foto séria, descrever suas competências e experiências profissionais e adicionar potenciais colaboradores, seguir empresas, etc. No entanto, como diria um conhecido meu: "O Brasil é um país bom, o que estraga são os brasileiros".
Depois de popularizar-se no Brasil, é um tal de post com frase de auto-ajuda, testinho bobo de matemática, ou pior, se quiser ir pro Canadá escreva "Yes". "Yes, we can". Seria cômico, se não fosse trágico. Pessoas se adicionam, não trocam meia palavra, e ficam lá, constando, colecionando números, sem utilidade nenhuma.
A modinha dos testes matemáticos passou (ainda bem!), mas a nova onda é falar mal de funcionário público.
O desemprego tá foda no mundo todo, a vida não tá fácil pra ninguém, mas acho um absurdo você desdenhar de uma coisa que você não conhece nem vivencia. Vagabundo tem em todo canto, seja na esfera pública ou na iniciativa privada.
Sou funcionária pública federal, com muito orgulho, e trabalho no mínimo 8h por dia, sem contar os cursos que faço para me aperfeiçoar profissionalmente (em menos de um ano, já fiz três - sendo um deles na Johns Hopinks Bloomberg School of Public Health). Tenho uma hora de almoço como todo mundo, e não três como alguns imaginam. Meu salário é bom, mas tive que fazer doutorado pra isso, enquanto um vendedor pode ganhar facilmente o que eu ganho sem ter que estudar no mínimo 12 anos. Vivo participando de reuniões, algumas bem importantes, pois trata-se de definir estratégias e ações de vigilância em saúde, que claro, envolvem dinheiro público. O meu, do seu, do nosso dinheiro que pagamos para o governo como impostos para retornar em assistência em saúde, prevenção de doenças e promoção de qualidade de vida. Uma coisa é você contratar um serviço pra sua casa, outra é para um país inteiro. E não ganho 1 real a mais pelo tamanho da responsabilidade que tenho.
Vejo pessoas no LinkedIn, geralmente da iniciativa privada com escolaridade e formação duvidosas, desdenhando o funcionarismo público, chamando todos de desocupados, e afirmando que só querem mamata e estabilidade. 
Ora, mamata todo mundo quer, nem venha me dizer que não. Quem não quer passar a vida viajando pelo mundo, tomando um bom champanhe e comprando o que quiser?. Mas eu, pelo menos, não tenho isso. Gosto quando meu dia é cheio, produtivo e assim, posso colaborar com meu país. Já a estabilidade que tantos apedrejam é só uma característica do cargo que tenho, não o motivo de eu estar nele. 
Não seria pecado se eu quisesse este cargo pela estabilidade apenas. Do mesmo jeito que alguns montam empresas ou trabalham com vendas apenas visando o lucro - só que neste caso, o cliente dane-se. Mas não foi o meu caso.
Uma pessoa que generaliza todos os funcionários públicos como preguiçosos ou desocupados, numa rede profissional internacional como o LinkedIn, só pode me fazer pensar quão limitada é a capacidade intelectual desta pessoa, inclusive, com falta de vivência e maturidade profissional. Com falta de respeito.
Se quiser ter seu negócio respeitado, deve primeiro respeitar as diversas modalidades de cargo e profissões, independente da iniciativa a que pertença. Quem é profissional de verdade, é em qualquer esfera de atuação - pública ou privada. Competência não nasceu de uma nem de outra.
Lamento muito que uma ferramenta tão útil como o LinkedIn esteja sendo tão mal usada no Brasil, fazendo com que profissionais sérios que estão em busca de novos parceiros e negócios sejam prejudicados devido a um comportamento inadequado e infantil de alguns poucos usuários, que estão ali mais para fazer fofoca, do que gerar riquezas para o país.


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