segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sombras e a vida


Hoje, ao voltar de um plantão noturno e cansada de um monte de coisa, leio numa página social que uma amiga, que tem um bebê, comentou que ele descobriu a própria sombra. Foi assim: Ele via a sombra da mão dele, tentava pegar e não conseguia. E por isso sentiu-se frustrado. Claro que ela falou em frustração da forma mais leve que existe, afinal se trata de um bebê. Achei graça da inocência dele. Imaginei aquela mãozinha gordinha, fofinha, tentando pegar algo que existe, mas que é impossível. Ri. Depois, fiquei pensativa.
            Quantas coisas não gostaríamos de pegar, de fazê-las nossas e não podemos? As vimos, mas não podemos pegá-las para si. Coisas materiais mesmo. Sentimos frustração por isso. Mas meu pensamento foi muito mais além de futilidades e objetos. Por entre quantas sombras vivemos?
Quantos sentimentos queremos que permaneçam presos em nossas mãos e
desde pequenos sabemos que isto não é possível? Mas ainda assim insistimos? Parece que não aprendemos a lição. É a nossa sombra. Aquela que vai acompanhar-nos a vida inteira, dependendo da posição, algumas vezes encolhida, quase um ponto no chão, ou então se mostra comprida, larga, ocupando todo o espaço ao redor de nós. Assim são os sentimentos, bons ou ruins. Assim é o amor, assim são as pessoas, assim é a vida. Depende da posição que você está. Depende da posição do sol. Não depende só de você. Depende também da sua boa vontade de olhar para baixo e procurar sua sombra, procurar pela posição certa.
Olhar para baixo não é se auto menosprezar e procurar o pior, e sim olhar para seu passado e verificar os erros cometidos para não mais cometê-los no presente. Olhar para baixo é olhar sua história de vida, cada degrau subido, cada momento de dificuldade e expectativa, e só assim, será possível localizar sua sombra. Se localizar.
            Mas não tente agarrá-la, fazê-la sua, a sombra, assim como as pessoas, devem ser livres. Basta um pôr do sol e nada de sombra. No máximo, algo chamado de réstia. Um protótipo de sombra. O que restou dela.
Não se contente com o resto. O pôr do sol é lindo e necessário, mas no outro dia, se você se posicionar no lugar certo, sua sombra estará lá, ao seu lado, sempre te fazendo companhia.
E lembre-se: deixando-a livre para acompanhar-te pelos caminhos que serão trilhados. Assim como as pessoas que o querem fazer contigo, sejam amigos ou o seu amor. Não tente agarrar sua sombra, será uma enorme frustração. Deixe que elas (as sombras e as pessoas) estejam ao seu lado porque querem estar. E se não estiverem, você não deixará de existir por isso. Um amanhecer e tudo volta aos eixos.

Daniele Van-Lume Simões,

Outubro de 2013


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