sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Disfarces


Passamos a vida tentando disfarçar. Quando crianças, tentávamos disfarçar quando fazíamos xixi na cama ou o boletim (e nada adiantava, o castigo era o mesmo). Mais tarde, tentávamos disfarçar as espinhas durante a adolescência com maquiagens, corretivos ou o tamanho desproporcional das pernas com roupas largas ou a insegurança disfarçada de mal-humor típico da fase... Mas de nada adiantava. Em seguida, tentamos disfarçar as rugas, com arsenais de cremes, ácidos, potes para rosto, pé, mão, corpo (ui, e rosto não faz parte do corpo?)... Disfarçamos a idade, os quilos a mais que ganhamos com o tempo ou aquela celulite que não existia com uma calça preta. Disfarçamos que os seios já não são mais os mesmos com sutiãs com enchimento: "ah, é só uma esponjinha...". Tira a esponjinha para ver onde vai parar. Disfarçamos sorrisos, olhares, até a nossa raiva, muitas vezes - ou quase todas - disfarçamos quando alguém nos faz mal e engolimos em seco. Mas parece que mesmo com tantos disfarces, tudo fica evidente.
Disfarçamo-nos no carnaval com fantasias, sem culpa, mas é tudo disfarce, brincadeira, no carnaval pode. É liberado. Brincamos com o sério também: Disfarçamos sentimentos, sejam bons ou ruins... Olha que crueldade? E daí os disfarces se estendem aos dois beijinhos no rosto em quem não gostamos, aos abraços que deixam de existir por puro descuido, a apatia mesmo quando o mundo gira velozmente e te exige no mesmo nível de velocidade. 
A vida seria muito mais feliz com mais beijos e abraços nas pessoas que são importantes pra nós, sem disfarces. Disfarçamos o quanto ganhamos e o que conquistamos para evitar 'olho gordo'. Disfarçamos a desconfiança nas pessoas ao esconder nossos princípios, nossa opinião e nossa vida. É, disfarçamos também a inveja, chamando-a de 'invejinha branca'. Inveja é inveja. Branca, preta, azul, roxa com bolinhas amarelas, não interessa. Admiração é outra coisa. Que também é disfarçada em omissão porque nosso ego, às vezes, não permite que a demonstremo-la. 
Disfarçamos até mesmo nossa fé numa roda de céticos, quando damos a entender que desconfiamos da história da nossa própria crença. Muito triste disfarçar até isso. Mas se tem uma coisa que nunca conseguiremos disfarçar é o nosso caráter. Ele nos acompanhará, sempre, em qualquer circunstância. O caráter não permite disfarces. Não a médio, longo prazo. Na primeira impressão, sim, ele pode ser disfarçado, dissimulado, escondido. Mas com o tempo, ele, o verdadeiro caráter, dará um jeito de aparecer. Seja numa conversa, numa atitude, ou até num ato-falho. E aparecerá, nu, cru, mostrando quem você é, para sua sorte - ou azar.

Daniele Van-Lume Simões 21/10/2016



3 comentários:

  1. Respostas
    1. Fico feliz que gostou, Livia! Seja sempre muito bem vinda por aqui! Bjos! 😘

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  2. Adorei meu amor.
    É muito bom te ver feliz externando a pessoa maravilhosa que és, contribuindo com mensagens positivas, pois apenas isso nos faz crescer.
    Amo você

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