sábado, 3 de dezembro de 2016

A fuleirice e as amizades


Começo explicando que fuleirice nada tem a ver com fuleiragem. Fuleiragem é quando você quer sacanear alguém, fuleirice é o que ocorre na vida, cotidianamente, em várias situações, principalmente nas amizades. É um afastamento natural.
Pois bem, às vezes é preciso a distância para que a fuleirice venha à tona e seja revelada. Essa semana recebi notícias de três amigas muito queridas que há dois anos quase não via ou conversava. E do nada. E claro, elas me chamaram de fuleira. Só que não se esqueçam que a fuleirice é uma via de mão dupla, ao contrário da fuleiragem. O afastamento foi bilateral.
Quando morava em Recife, tentei algumas vezes manter contato, marcar saídas ou almoço e elas também, mas que nunca davam certo. Seja porque acontecia algum imprevisto, seja por pura acomodação de saber que aquela pessoa estaria lá a poucos quilômetros de distância, seja por nada. Simplesmente deixamos de nos ver e nos afastamos.
E a vida é assim... Vamos nos afastando de pessoas queridas, elas vão deixando de fazer parte da nossa rotina, até que o contato se extingue. E não é por maldade, é por inércia – de ambas as partes. E quando vemos, casamos, mudamos de estado, mudamos de emprego, engravidamos, sem que elas participem disso. Mas o carinho continua ali, latente, só esperando o acaso acordá-lo.
Tem quase um ano que moro em Brasília e só agora elas deram por minha falta. Chega levei um susto. Mas é bom que essas coisas aconteçam porque repensamos muita coisa. Repensei a importância que cada pessoa tinha e ainda tem na minha vida, repensei que a vida é muito dinâmica e que o limite entre perder o contato definitivamente ou apenas se afastar por um tempo é muito tênue. Repensei que não devo me culpar por isso, pois do mesmo jeito que eu tinha o telefone de todas, elas também tinham o meu – e que por sinal hoje é outro e ninguém sabia disso. E principalmente, repensei que o meu maior medo é me dar falta de alguém e ver que foi definitivo. A única coisa definitiva na vida é a morte.
Por isso, meus caros, não tenham orgulho. Se alguém que foi um grande amigo seu se der por sua falta, sinta-se feliz, abrace o contato, retome, recomece. Dê uma chance, mesmo com esse vácuo, seja de meses ou até de anos.
A vida nos dá a chance todo dia de recomeçar, seja com novas ou velhas amizades. E por isso hoje eu brindo o recomeço dessas três amizades que foram e ainda são muito importantes para mim.
Daniele Van-Lume Simões    03/12/16




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