Começo explicando que fuleirice nada tem a ver
com fuleiragem. Fuleiragem é quando você quer sacanear alguém, fuleirice é o
que ocorre na vida, cotidianamente, em várias situações, principalmente nas
amizades. É um afastamento natural.
Pois bem, às vezes é preciso a distância para
que a fuleirice venha à tona e seja revelada. Essa semana recebi notícias de
três amigas muito queridas que há dois anos quase não via ou conversava. E do
nada. E claro, elas me chamaram de fuleira. Só que não se esqueçam que a fuleirice
é uma via de mão dupla, ao contrário da fuleiragem. O afastamento foi bilateral.
Quando morava em Recife, tentei algumas vezes
manter contato, marcar saídas ou almoço e elas também, mas que nunca davam
certo. Seja porque acontecia algum imprevisto, seja por pura acomodação de
saber que aquela pessoa estaria lá a poucos quilômetros de distância, seja por
nada. Simplesmente deixamos de nos ver e nos afastamos.
E a vida é assim... Vamos nos afastando de
pessoas queridas, elas vão deixando de fazer parte da nossa rotina, até que o
contato se extingue. E não é por maldade, é por inércia – de ambas as partes. E
quando vemos, casamos, mudamos de estado, mudamos de emprego, engravidamos, sem
que elas participem disso. Mas o carinho continua ali, latente, só esperando o
acaso acordá-lo.
Tem quase um ano que moro em Brasília e só agora
elas deram por minha falta. Chega levei um susto. Mas é bom que essas coisas
aconteçam porque repensamos muita coisa. Repensei a importância que cada pessoa
tinha e ainda tem na minha vida, repensei que a vida é muito dinâmica e que o
limite entre perder o contato definitivamente ou apenas se afastar por um tempo
é muito tênue. Repensei que não devo me culpar por isso, pois do mesmo jeito
que eu tinha o telefone de todas, elas também tinham o meu – e que por sinal
hoje é outro e ninguém sabia disso. E principalmente, repensei que o meu maior
medo é me dar falta de alguém e ver que foi definitivo. A única coisa
definitiva na vida é a morte.
Por isso, meus caros, não tenham orgulho. Se
alguém que foi um grande amigo seu se der por sua falta, sinta-se feliz, abrace
o contato, retome, recomece. Dê uma chance, mesmo com esse vácuo, seja de meses
ou até de anos.
A vida nos dá a chance todo dia de recomeçar,
seja com novas ou velhas amizades. E por isso hoje eu brindo o recomeço dessas
três amizades que foram e ainda são muito importantes para mim.
Daniele Van-Lume Simões
03/12/16
Nenhum comentário:
Postar um comentário