Sinto necessidade de
afastar-me. De algumas pessoas, talvez, de algumas situações também, mas
principalmente de mim mesma.
Afastar-me de mim e ver de
longe o que tem valido à pena na minha vida. Afastar-me de mim e ver quantas
escolhas fiz na vida e quantas acertei.
Afastar-me de mim mesma para
que eu possa pensar e chegar à alguma conclusão - mais ainda, atitude.
Anulei-me muito nos últimos
anos. Anulei minha paixão por dança, por língua italiana, por literatura
inglesa. Anulei minha paixão por estar só - é isso é o mais sufocante de tudo -
conseguir estar só com você mesma com tantas demandas pessoais e profissionais.
Lembro que uma das coisas que
mais amava fazer era ir ao mercado na sexta feira, comprar um vinho mediano
(pois ganhava mal como estudante de pós) e assistir filmes cabeça sozinha no
meu quarto, meu refúgio por longos 30 anos. My cave.
Ali, eu era eu mesma, podia
dormir e acordar a hora que quisesse, podia ler, escrever, chorar ou rir de
alguma cena de filme. Podia ter minha dor de cotovelo em paz, dor de cotovelo
da vida, que faz a gente repensar as escolhas. Sem ter que dar explicação
alguma a alguém.
Hoje, sinto que preciso me
afastar, mas as pessoas não entendem. Preciso que minha intimidade seja só
minha e que eu volte a ter a liberdade de escrever, de ler, de expressar o que
eu quiser. Ser livre. Cansada de amarras, de pensamentos machistas, de
brincadeiras de mau gosto, de violência contra a figura da mulher. Cansada de
egoísmo, grosseria e impaciência - essa bolha prestes a explodir que o mundo se
transformou.
Não quero me afastar dos
amigos, só quero falar um pouco menos de mim e ouvir mais. Quero me afastar das
obrigações domésticas e ser livre para dormir, acordar e comer na hora que
quiser e não na hora que dois têm que fazer. Quero poder expressar-me! E ser
respeitada por isso.
Quero curtir minha dor de
cotovelo pelo livro que li, pelo filme que vi, sem dar maiores explicações.
Quero ter minha memória
preservada e não me anular para satisfazer o ego de ninguém.
É minha história. E é minha, só
minha. Tudo o que passei ninguém saberá e o que contei, me arrependo
amargamente, pois o mundo está cheio de falsos juízes moralistas para apontar o
dedo na sua cara, quando o que você só precisa é de um abraço sincero e uma frase
de que tudo vai ser melhor a partir de agora.
Quero fazer exercício, quero beber menos e comer menos ainda.
Cansada de me entupir de cafeína para meu dia ser suportável.
Quero, enfim, ser uma garota
normal, que merece respeito, que tem opiniões, necessidades e um coração de
manteiga. Quero ser a mulher que sempre fui até pouco tempo atrás: vaidosa,
encantadora, meiga, culta e um pouco braba - porque odeio hipocrisia. E oh,
cheinha de defeitos.
Quero ser lembrada como alguém
que fez a diferença porque ensinou algo a alguém e não por ser alguém
desprezível ou arrogante.
Espero afastar-me um pouco de
mim, para que eu consiga colocar um pouco de ordem nesse caos chamado big bang
pessoal. E assim, orbitar entre as pessoas que amo e ser vista exatamente como
sou, como um corpo celeste que encontrou seu equilíbrio, sua verdadeira órbita,
sem desestabilizar a órbita de ninguém.
Daniele Van-Lume 11/12/16
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