Se tem uma coisa que aprendi
dando aulas foi saber se colocar. E se colocar envolve dois verbos principais:
ouvir e falar.
Falar com firmeza, porém sem
grosseria. Respeitar o ouvinte, independente do seu conhecimento prévio sobre o
tema. Ser firme não é ser duro ou arrogante, embora frequentemente as pessoas
achem que são sinônimos e se comportam de uma forma agressiva, para se defender
de um possível "ataque" que nunca existirá. Discutir um tema não é
atacar - ou pelo menos não deveria ser.
Ser firme é manter o tom de voz
coerente com sua educação. E o limite entre a firmeza e grosseria, baseado
nesse tom é muito tênue.
Pois bem, mais do que saber falar, eu aprendi, dando aulas, a
saber ouvir.
Ouvir a dúvida, por mais banal que pareça para alguns, deve-se ter
respeito por ela, pois se não existissem dúvidas, não haveriam certezas nem
tampouco conhecimento gerado.
É a maçã que caiu do pé e por
conta de uma dúvida, formulou-se a lei da gravidade.
Saber ouvir a angústia numa
pergunta de um aluno, ou até de um paciente, na época que eu dava plantão,
quando não entendia o resultado do exame. Isso é tão importante quanto saber
falar eloquentemente. Saber ouvir alguém mais velho e com mais experiência e
refletir sobre o que foi dito. Saber ouvir com senso crítico e não tomar tudo
por verdades absolutas. Quantas teorias não caíram por terra? Kepler que o
diga. Com perdão do trocadilho.
Aí mora o grande problema no
Brasil: o senso crítico é visto sempre da pior forma possível, como uma espécie
de desmerecimento - seja da fala, seja da pergunta, seja da resposta. Mas pior
ainda quando é da pergunta.
Criticar não é por defeitos, é
discutir o tema para melhor entendimento e elucidação de questões que insistem
em aparecer e que não dá para encobrir com uma manta velha. Criticar não é
menosprezar o trabalho de ninguém, é tentar melhorá-lo, é propor ideias e mesmo
que falhas sejam apontadas, estas devem ser apontadas para serem corrigidas. O
quanto antes.
O que isso tem a ver com o
respeito à plateia? Tudo. Uma plateia que não é respeitada por alguém quando
pergunta algo, ou é desmerecida na sua formação/composição aí é que deve sim se
impor. Deve sim criticar. Deve sim falar para ser ouvida. Se não houvesse uma
plateia, sua fala seria inútil. Como alguém ousa desmerecer a razão de sua
fala?
Uma pessoa que desmerece uma
plateia não deveria ter o direito de abrir a boca, pois não sabe ouvir. O pilar
da comunicação é o dueto saber ouvir/saber falar e só o equilíbrio entre esses
dois saberes - interlocutor e a plateia como uma simbiose - é que faz uma
discussão ser frutífera, sem ofensas, ânimos exaltados ou pior, a perda da
razão - de qualquer que seja a parte. Essa simbiose diplomática é que faz com
que todos os envolvidos sejam respeitados, independente se o indivíduo está
sentado numa cadeira como espectador ou em cima de um palco, com todas as luzes
voltadas para ele.
Daniele Van-Lume Simões 14 de dezembro de 2016
Parabéns Dani. Belo texto amor.
ResponderExcluirObrigada, amor!
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