domingo, 6 de novembro de 2016

A decisão e os filhos


Muitas amigas minhas já tem filhos. Um não, dois ou até mesmo três. Aquele casamento de conto de fadas, que sonhamos aos 6 anos de idade: Príncipe, vestido bufante, muitas flores, e a certeza que tudo será perfeito, com muito filhos, de preferência o primogênito homem.
Mas a realidade é muito diferente. Algumas não conseguem engravidar e sofrem por isso, outras estão grávidas e sofrem por isso porque não tinham planejado esse momento tão cedo. Já outras - como eu - decidem por ora não ter. Hoje escolho não ter.
Egoísmo, falta de sensibilidade, medo, covardia, deem o nome que quiserem. Eu chamo de direito de escolha. De saber o que se encaixa na minha vida neste momento, o que planejo viver, ou simplesmente ter o direito de decidir sobre o meu corpo, sem ninguém me aporrinhando por causa da idade fatídica - 35 anos.
Hoje eu escolhi não ter filhos porque não me vejo presa a um serzinho totalmente dependente de mim na rotina que levo. Hoje eu não me vejo presa em casa, limpando coco e acordando no meio da noite para alimenta-lo. Não me vejo sem liberdade de ir e vir, de acordar na hora que quiser, de comer qualquer porcaria na geladeira e tomar meu vinho na hora que quiser, sem me preocupar se o álcool vai passar pro leite. Não me vejo com tanta responsabilidade vitalícia, porque mesmo depois de grandes, os filhos continuam ali, exigindo cuidados maiores do que quando pequenos.
Sei que se um dia acontecer de engravidar, será  o maior amor que terei conhecido na vida. Sei que se isso acontecer, todo esse meu discurso acima será desconstruído e derretido por um sorriso inocente ou pela primeira palavra dita pelo meu filhote. Sei que me coração é de manteiga, mas com uma casca dura. É, talvez tenha um pouco de medo também.
Mas não, hoje não é minha escolha. Ser mãe nunca foi minha prioridade, ao contrário de todas as minhas amigas e primas e colegas de trabalho.
Sou acostumada à solidão e não tenho medo dela, ela me conforta e me acalma.
Um dia, essa prioridade pode ser mudada e o desejo de ter um filho pode vir à tona de uma forma explosiva, visceral, invasora como um tsunami na minha mente e no meu sentimento, mudando todas as minhas prioridades.
Mas minha mente anda curtindo a brisa calma do silêncio e da reflexão. Minha mente faz as escolhas e eu apenas aceito porque somos uma coisa só.
Muitos vão me julgar por esse texto, achando que não gosto de crianças. Pelo contrário, eu as amo. Amo conversar com elas e ganho meu dia quando elas abrem um sorriso pra mim. Amo a inocência e a curiosidade delas, amo a energia de ter uma criança por perto, porque me lembra Deus - uma criaturinha tão pequena e perfeita só pode ser obra DELE.
Mas assumir a responsabilidade de educar e cuidar de uma criança, ainda, não faz parte das minhas escolhas. Vejo muita mãe só de nome, mas que não estão nem aí para suas filhas ou filhos. Que deixam as crianças vestirem qualquer coisa, comerem qualquer porcaria, enquanto compram roupas de marca e bikes importadas. Isso é ser monstro, não mãe.
Preciso pensar nisso antes de decidir gerar um filho e ter muito claro que diversas vezes vou falhar e que será o pior fracasso da minha vida se isso acontecer. Afinal, pais e mães são super-heróis.
Mas minhas escolhas é que me farão verdadeiramente feliz, não número de filhos pendurados na barra do meu vestido. Mas se houver algum, terá todo o meu amor e cuidado.
E claro, como tudo na vida... Nada é estático. Escolhas mudam, mas no tempo certo, no amadurecimento certo. Ou permanecem como estão. Vamos ver.
E não há problema nenhum nisso, pois se trata da minha vida - e não da sua. E da minha vida e das minhas escolhas não há ninguém no mundo que mais saiba sobre isso do que eu mesma. Ou que busca saber para tomar a decisão certa. No tempo certo. Seja ela qual for.

Daniele Van-Lume Simões 06/11/16



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