sábado, 12 de novembro de 2016

O que sou hoje e a minha mãe


Esta não é uma crônica para expor traumas ou problemas, muito menos enveredar por uma veia Freudiana, embora o título sugira isso. Não vou complicar: toda família tem defeitos e estes não devem ser expostos a quem não conhecemos ou não confiamos.
Mas vim falar um pouco da minha mãe. Ou melhor da educação que ela me deu.
Sou filha única, mas ao contrário do que pensam sobre os filhos únicos serem mimados e insensíveis, não me tornei este monstro.
Tive uma educação rígida, sim MUITO rígida. Se tirasse nota 8 no colégio, ficava de castigo uma semana sem TV (porque, graças a Deus, minha infância não foi virtual). Sim, eu disse 8. Uma semana e não apenas 5 minutos como prega a SuperNanny...
Tinha que arrumar minha própria cama desde os 8 anos de idade e fazer meu café da manhã desde os 10. Varria a casa todo dia, mesmo sendo alérgica e asmática. Havia regras e que não podiam ser quebradas. Estudava 10h por dia, contando 4 em casa de manhã, 5 no colégio e mais uma à noite, para deixar a lição pronta.
Tinha hora de comer, hora de acordar - nunca depois das 8 da manhã - hora do banho e hora de dormir (que essa eu desrespeitava de vez em quando lendo gibis durante a madrugada com uma luz fraquinha que entrava pela janela do meu quarto - prazer, 4 graus de miopia!).
Minha mãe sempre foi rígida. Tinha que escolher entre comer e apanhar. Sim, eram chineladas e doíam na alma, porque nunca achei que as merecesse - mas talvez fosse necessário. Escolhia entre obedecer ou engolir o choro - depois das chineladas. Chinelo tamanho 36, lembro até hoje. Não tinha meio termo. Era a forma que ela encontrou de me educar e é claro que isso gerou alguns traumas. Minha adolescência adoraria esquecer, mas vamos pular essa parte. Afinal, não é sobre traumas esse texto.
Apesar de toda rigidez, hoje, com meus 33 anos, eu sou grata a ela. Por incrível que pareça e por mais complicada que seja nossa relação, segundo as análises Freudianas. Mas sou grata e vou dizer o porquê.
Hoje eu sou uma excelente dona de casa, uma profissional responsável, uma mulher de verdade.
Tive que lutar pela minha liberdade, inclusive de expressão, e isso me tornou forte. Minha mãe nunca foi fácil de ser convencida.
Estudei muito, mestrado, doutorado e mais alguns cursos... Sou funcionária pública federal, como sempre sonhei. Valeu a pena ela não aceitar um 8 no boletim.
Sou uma dona de casa de verdade, minha casa é limpa, um brinco, cozinho muito bem e gosto disso. Mesmo com asma e alergia até hoje. Só não sei fazer a cama - acho que rolou um trauma aí... Rs
Tenho valores como fidelidade nas relações e honestidade nos sentimentos - se uma coisa que não posso me queixar da minha mãe é que ela não demonstra o que sente. Pelo contrário, demonstra até demais e paga um alto preço por isso. Tudo na vida requer equilíbrio. Até com os exageros dela, aprendi alguma lição.
Enfim, hoje eu posso dizer que apesar de tudo, sou grata à educação que ela me deu, pois me tornou uma mulher melhor e que luta e sabe o que quer. Uma mulher doce e ao mesmo tempo forte.
Hoje, minhas experiências rígidas me fizeram ter disciplina, respeito pelo próximo e consciência das minhas obrigações e responsabilidades. Hoje eu agradeço a minha mãe por eu não ser uma dondoca alienada e fútil, como imaginam que todas as filhas únicas são. Aqui vai o meu muito obrigada, mãe.

Daniele Van-Lume Simões  12/11/16

PS: Pai, vou escrever sobre o senhor, se prepare. Rs ;)



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